Os passos realizados pela
filosofia permitem enxergar o teor prospectivo da razão, concretizado nas
expressões da ciência, da estética com a pintura e a poesia, e na compreensão da
sociedade, com as suas formas de governo e demais organizações políticas.
Sabemos que durante o
período medieval, além da componente racional, todas estas expressões foram
declinadas a partir do fenômeno do cristianismo, responsável por apresentar uma
concepção de Deus como luz que dissipa as trevas que assolam a pessoa humana,
sua racionalidade e realidade circunstante.
Como recordamos o período
moderno da filosofia, filho legítimo do Renascimento, contrapõe o teocentrismo
medieval com a proposta de um antropocentrismo, que não admite a necessidade de
auxílios para a razão.
Genuinamente
pós-renascentista, a filosofia moderna, reelabora as concepções medievais. O
sacro dos modernos, não é o divino ou o transcendente, mas sim, o humano ou o
imanente. Há uma sacralização do profano e a decorrente profanação do sacro. A
modernidade se rebela contra leis de teor divino e segue apenas leis de caráter
racional.
No Olimpo da modernidade há
uma única deusa, adolescente e bela, caprichosa e fascinante. Voltada para o
espelho do narcisismo, a razão moderna enxerga apenas a própria imagem que além
de possuir luz própria, sente-se incomodada diante de luzes que derivem de outros
endereços.
Preparado pelo tipo de
racionalismo próprio do cogito de Descartes, o Iluminismo francês assumiu este
projeto, que atingiu grandes nomes da filosofia moderna como Kant e Fichte. O
filósofo de Königsberg compreendia o Iluminismo como a saída da menoridade para
a maioridade, isto é, para a fase adulta da razão, que guiada pelo “sapere
aude” dos latinos, torna-se capaz de pensar-agir por si mesma.
Dentre as repercussões
racionalistas típicas de Kant, salientamos a que diz respeito ao âmbito moral,
com o respectivo imperativo categórico que enfatiza o cumprimento do dever pelo
simples prazer de vê-lo cumprido (deontologia) e não em vista de finalidades
que lhe são externas (teleologia). Relendo Kant, Fichte constrói uma concepção
de Deus que o identifica com o ordenamento moral e afirma que nesta reside a
impossibilidade de negar-lhe existência.
Vemos assim delineada na
filosofia moderna, a noção de religião natural pautada sobre o dado racional,
distante de qualquer acento proveniente da revelação, da intervenção de Deus que
no hoje da história, escuta os gritos da razão, vem procurá-la quando está
perdida no solipsismo, carrega-a sobre os ombros e cuida das suas feridas, para
que retome a sua direção existencial: encontrar o divino que reside no humano.
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