quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A Sabedoria entre Aristóteles e Salomão



O brilhantismo presente no pensamento de Aristóteles mostra um projeto que compreende a filosofia enquanto teorética e prática. A filosofia teorética está concentrada sobre o conhecimento em si mesmo, desvinculado de uma praticidade. É quando buscamos o conhecimento pelo simples prazer que reside no ato de conhecer. A filosofia prática, resultado da especulação, evidencia de modo específico as repercussões desta mesma no cotidiano, no conjunto de ações que interligam os indivíduos.
A filosofia adquire proporções tais com Aristóteles, ao ponto de ser apontada como ferramenta insubstituível para alcançar o escopo que entrelaça as metas dos indivíduos, muito além da esfera social, econômica e religiosa: a felicidade. Construí-la é imprescindível, para que nos realizemos enquanto seres humanos.
Se perguntássemos a Aristóteles o que fazer para buscar a felicidade, ele nos pediria para cultivar as virtudes, as que moldam o caráter, chamadas de éticas e as que aprimoram o intelecto, conhecidas como intelectivas.
No vocabulário de Aristóteles, virtude ética e intelectiva, implica sempre uma situação de excelência, uma marca registrada reconhecida pela capacidade de dissipar os males da escassez e do excesso, através de uma justa medida, que exala equilíbrio e ponderação. Eis onde mora o sonho de tudo o que é adjetivado como filosofia: tornar-nos hábeis na tarefa de agir com sabedoria.
Esta virtude intelectiva não é propriedade exclusiva da filosofia. Na Sagrada Escritura, com o seu existencialismo teocêntrico, encontra-se um livro dedicado ao cultivo da Sabedoria e, sobretudo, na busca de Salomão percebemos que a Sabedoria mantem religião e filosofia numa profícua relação.
Utilizado durante a filosofia medieval pelos expoentes da Patrística, o livro da Sabedoria é o mais novo do Antigo Testamento, o que reforça a parceria entre as propostas hebraica e grega. O que buscamos é guiado pelo desejo de Salomão de tornar-se hábil na distinção entre o bem e o mal, indispensável para governar Israel. É desta forma que Deus responde ao anseio de Salomão: “Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste para ti vida longa, nem riqueza, nem a vida dos teus inimigos, mas pediste para ti discernimento para julgamento, vou fazer como pediste: dou-te um coração sábio e inteligente, como ninguém teve antes de ti e ninguém terá depois de ti”. (1 Reis 3,10-12)
O que ouvimos através dos meios de comunicação sobre o templo inaugurado no dia 31 de julho, em São Paulo, agride as propostas de Aristóteles e Salomão. O templo do Brás cultua outras metas econômicas, fraudulentas e eleitoreiras, está infinitamente distante do propósito da Sabedoria.

Um comentário:

  1. Conclusão: de Deus vem o verdadeiro conhecimento, pois Ele é a própria sabedoria

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