quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O opúsculo “Sobre a Verdade” de Anselmo d’Aosta e a lição desta Copa do Mundo.



Quantos de nós, nas mais diversas situações já nos perguntamos: o que é a verdade? Esta indagação segue o trabalho da filosofia, que por vezes a apresenta com as vestes do relativismo, propondo que o fato de termos uma concepção de verdade hoje e outra amanhã, com diferentes conotações, prova claramente que não existe a verdade, mas sim, um conjunto de verdades, utilizado para responder aos nossos interesses.
Distanciando-se do relativismo que torna a verdade, refém do historicismo, a filosofia a apresenta com as vestes da metafísica, isto é, de uma indagação que identifica os passos da verdade no decorrer dos períodos históricos, mostrando que a verdade não é a laboriosa fabricação de nenhum destes, mas pelo contrário, é algo que os precede, que está supremamente além. Noutros termos, a verdade é meta-histórica.
Considerando o opúsculo “Sobre a Verdade”, escrito por Anselmo, percebemos que o filósofo, reflete sobre a verdade identificando-a com a noção de retidão. Séculos mais tarde, outro nome ilustre da medieval, qual Tomás de Aquino (séc. XIII), numa obra que receberá o mesmo título privilegiado por Anselmo (séc. XI), conceberá a verdade através da noção de adequação.
Para o autor do opúsculo que inspira este artigo, verdade, retidão e justiça são inseparáveis ao ponto de formarem uma só realidade. A verdade é aquela que imprime retidão na linguagem, na vontade, nos sentidos. Deste modo, sentir, desejar e expressar são responsáveis pela coloração da verdade que caminha sobre as águas do mar da história, esperando ser percebida.
Certamente os passos da verdade, são dotados de um aspecto questionável, que se esclarece numa sucessão histórica e possuem também um aspecto evidente por si mesmo, através do qual a reconhecemos, num fluxo de circunstâncias, que marcam a dinâmica do conhecimento.
Se relacionássemos tais aspectos com um exemplo visto por milhões de pessoas nestes dias, elegeríamos as atuações da seleção canarinho, na Copa do Mundo, realizada neste querido Brasil, por vezes cansado de emergir.
Discorrendo sobre a seleção brasileira, a adjetivamos como pentacampeã, mas é questionável o uso feito desta verdade conquistada nos precedentes mundiais. A lição deixada por esta Copa mostrou que a verdade não cabe em nossos bolsos, que é impossível trancá-la em nossas caixas.
A Copa expôs que a verdade desmascara os disfarces ideológicos, faz perceber as distâncias entre parecer e ser. A verdade sentida, desejada e expressada não é um trono sobre o qual repousamos majestosamente, mas um caminho repleto de surpresas. Somos sempre seres menores diante da grandeza da verdade.

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