sábado, 26 de dezembro de 2015

Impeachment: golpe político ou solução para a sociedade brasileira?

Dirigindo esta pergunta aos alunos do Instituto Federal de Sergipe (IFS) na segunda-feira, dia 07 de dezembro, fui surpreendido pela resposta de Ísis Milena. Por vezes, nós educadores não queremos perguntar nem queremos que nos perguntem. Nós que atravessamos longos períodos de formação acadêmica para os níveis de mestrado e doutorado, não queremos o incômodo de perguntas consideradas tão banais.
Quando foi que a filosofia deixou de perguntar? Quando a filosofia deixou de ensinar a perguntar? Quando os educadores de filosofia passaram a enxergar a pergunta como algo incômodo? Quando começamos a oferecer respostas prontas, retirando dos alunos este protagonismo do pensar?
Penso a filosofia como a capacidade de surpreender-se. A filosofia é um destes exercícios que desperta seres inanimados que abriram mão do próprio pensar. É triste quando isto acontece e, sobretudo quando este fenômeno paira sobre a juventude que é o hoje e o amanhã deste país. Não por nada Sócrates foi acusado de ter cutucado uma juventude aparentemente inerte, que cochilando sobre si, assistia passivamente a este filme que não vale a pena ver de novo: O desmantelo de uma sociedade.
É preciso apostar na educação e compreendê-la nas suas repercussões políticas. Não precisamos ter medo de afirmar que toda educação é política. Isto não significa reduzi-la ao partidário, mesmo considerando que não descobrimos uma forma de fazer política prescindindo dos seus respectivos partidos. Olhando para a nossa claudicante democracia vemos o papel que os partidos desempenharam agrupando homens e mulheres em busca do ideal que consiste no bem comum social.
Educação, Filosofia e Política serão sempre boas aliadas contra as ideologias que se abateram e se abatem sobre o nosso país. Acreditando no valor da nossa juventude, reproponho a resposta da aluna Ísis Milena que cursa o primeiro ano de eletrotécnica no Instituto Federal de Sergipe. Boa leitura!
“A tentativa de impeachment contra a atual presidente Dilma Rousseff é, na verdade, um golpe político, pois não há uma real necessidade de mudança de presidente e sem um planejamento conjunto do Estado e da população para contornar a situação em que o Brasil se encontra”.
“No caso atual, o impeachment está sendo usado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, como uma forma de amedrontar a atual presidente da República, mas não haveria uma melhora ou solução para a sociedade brasileira, pois não haveria uma base concreta de um futuro mais próspero”.

“Os políticos que assumiriam após o impeachment não saberiam o que fazer por conta da pressão da população e dos outros políticos ou apenas pensariam no seu próprio bem ou de uma determinada parte da população (ricos), assim esquecendo do restante do povo que forma o Brasil, os trabalhadores que trabalham para manter de pé um país em que seus governantes não dão sua real importância”.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sobre o Natal: Estamos cuidando das crianças?



Como sabemos dos livros de história, nosso país é conhecido como Terra de Santa Cruz. Nas páginas da humanidade, a Cruz foi expressão de sacrifícios atrozes dos quais conhecemos alguns e muitos permanecem sob o peso de um silêncio de conveniências e omissões. A Cruz traz consigo inúmeros crucificados e tantas cenas demonstram que o Brasil é um país de Cruz e crucificados arrancados de seus lares por algozes disfarçados. Travestidos de cordeiros, são lobos ferozes que devoram as crianças brasileiras que são privadas de uma educação de qualidade, cultivadora de valores indispensáveis para a sociedade.
Percorrendo este tempo singelo na Igreja Católica, é importante que cresçamos no cuidado com as crianças brasileiras. Os gritos da realidade impõem questionamentos que encontram lugar na oração encarnando-a no hoje de uma história. Como o Estado cuida das crianças deste país? Onde estão as creches prometidas durante as propagandas eleitorais que invadiram os lares das famílias brasileiras? As mães pobres deste país - como Maria retirante e peregrina -, possuem um lugar seguro e acolhedor para seus filhos enquanto trabalham produzindo uma riqueza que pouco as beneficia? Onde estão as escolas de tempo integral que ouvimos durante uma campanha eleitoral que bradou o jargão “Lugar de criança é na escola”?
Ouvimos o clamor da escola pública que está agonizando, depredada física e moralmente. Confusa e de mãos atadas, a escola não sabe mais em que consiste o seu verdadeiro papel social. A escola instrui ou educa? O triste hiato de uma sociedade egocêntrica criou uma cisão entre a família e a escola. Quase não conseguimos mais encontrar as parcerias que outrora as uniram em prol do cuidado com as crianças. O ritmo frenético da sociedade fez com que a escola seja procurada apenas quando os filhos estão em apuros. A escola deixou de ser um lugar seguro. Este hiato nocivo a transformou num palco de agressões com requintes de violência que tocam estudantes, professores e demais profissionais da educação.
Com a redução da maioridade penal, grande feito deste novo velho governo, as casas de Brasília que abrigam os senadores e os deputados federais mostraram que neste país, “Lugar de criança é na prisão”. O Estado brasileiro não pode ser omisso no seu dever de educar as crianças pobres e célere para puni-las, sobretudo quando nos deparamos com um aparato jurídico classista que lança os filhos sem renda nos Centros de Atendimento ao Menor (CENAM) e encontra infindáveis recursos que tutelam os filhos das famílias abastadas deste país de desigualdades.
Dirigir-se ao Deus que procura a humanidade nesta criança chamada Jesus é recordar inúmeras crianças que neste país sequer tiveram um lugar digno para nascer, é pensar as crianças abandonadas e desaparecidas, vitimas das violências cometidas por aqueles que deveriam protegê-las contra todo e qualquer tipo de agressão.