segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sobre o Natal: Estamos cuidando das crianças?



Como sabemos dos livros de história, nosso país é conhecido como Terra de Santa Cruz. Nas páginas da humanidade, a Cruz foi expressão de sacrifícios atrozes dos quais conhecemos alguns e muitos permanecem sob o peso de um silêncio de conveniências e omissões. A Cruz traz consigo inúmeros crucificados e tantas cenas demonstram que o Brasil é um país de Cruz e crucificados arrancados de seus lares por algozes disfarçados. Travestidos de cordeiros, são lobos ferozes que devoram as crianças brasileiras que são privadas de uma educação de qualidade, cultivadora de valores indispensáveis para a sociedade.
Percorrendo este tempo singelo na Igreja Católica, é importante que cresçamos no cuidado com as crianças brasileiras. Os gritos da realidade impõem questionamentos que encontram lugar na oração encarnando-a no hoje de uma história. Como o Estado cuida das crianças deste país? Onde estão as creches prometidas durante as propagandas eleitorais que invadiram os lares das famílias brasileiras? As mães pobres deste país - como Maria retirante e peregrina -, possuem um lugar seguro e acolhedor para seus filhos enquanto trabalham produzindo uma riqueza que pouco as beneficia? Onde estão as escolas de tempo integral que ouvimos durante uma campanha eleitoral que bradou o jargão “Lugar de criança é na escola”?
Ouvimos o clamor da escola pública que está agonizando, depredada física e moralmente. Confusa e de mãos atadas, a escola não sabe mais em que consiste o seu verdadeiro papel social. A escola instrui ou educa? O triste hiato de uma sociedade egocêntrica criou uma cisão entre a família e a escola. Quase não conseguimos mais encontrar as parcerias que outrora as uniram em prol do cuidado com as crianças. O ritmo frenético da sociedade fez com que a escola seja procurada apenas quando os filhos estão em apuros. A escola deixou de ser um lugar seguro. Este hiato nocivo a transformou num palco de agressões com requintes de violência que tocam estudantes, professores e demais profissionais da educação.
Com a redução da maioridade penal, grande feito deste novo velho governo, as casas de Brasília que abrigam os senadores e os deputados federais mostraram que neste país, “Lugar de criança é na prisão”. O Estado brasileiro não pode ser omisso no seu dever de educar as crianças pobres e célere para puni-las, sobretudo quando nos deparamos com um aparato jurídico classista que lança os filhos sem renda nos Centros de Atendimento ao Menor (CENAM) e encontra infindáveis recursos que tutelam os filhos das famílias abastadas deste país de desigualdades.
Dirigir-se ao Deus que procura a humanidade nesta criança chamada Jesus é recordar inúmeras crianças que neste país sequer tiveram um lugar digno para nascer, é pensar as crianças abandonadas e desaparecidas, vitimas das violências cometidas por aqueles que deveriam protegê-las contra todo e qualquer tipo de agressão.

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