Comumente os
estudiosos atribuem a expressão “média”, ao período da história da humanidade
caracterizado pela expansão do cristianismo. Aqui recordaríamos a leitura
unilateral do renascentista Francesco Petrarca, que por sua vez motivou o
trabalho realizado pelos grandes nomes da filosofia moderna.
No entanto, o momento
sucessivo ao período clássico, nos apresenta um primeiro iluminismo, precedente
aos esforços da filosofia francesa, no qual os filósofos compreendem os limites
e as riquezas da razão, guiados pela luz da fé. Os filósofos medievais, ou
melhor, os primeiros iluministas, fizeram com que a filosofia fixasse os olhos
em Deus.
Neste artigo, veremos
como esta problemática se apresenta no pensamento de Anselmo d’Aosta (séc. XI),
um dos expoentes do primeiro iluminismo e autor das obras: Monológio, O Gramático, A Verdade, O Livre-arbítrio, A queda do
diabo e outras. Consideraremos precisamente a obra, intitulada Proslógio, (1076-1077), e perceberemos o
teor especulativo deste grande autor.
O intelecto humano
com suas potencialidades criativas, com suas valiosas imprecisões, consegue
eleger Deus como objeto desta dinâmica do conhecimento? Quando perscruta Deus,
o intelecto está diante da construção de uma ideia, ou se trata de uma
concepção inata?
Quando o intelecto
assume a tarefa de pensar Deus, se depara imediatamente precedido pelo Ser que
se deixa encontrar, a partir das improntas que marcam a infinita diversidade
das coisas criadas.
No decorrer das
linhas que formam a obra Proslógio, Anselmo, acolhe o pedido dos companheiros,
e apresenta posições acerca da possibilidade do conhecimento de Deus, a partir
da ótica da fé, enquanto dado revelado por uma intervenção divina, mas
concentrando-se ainda sobre uma ordem intelectiva, que através de uma leitura
das coisas criadas, desvela a expressividade do Ser.
Tendo desenvolvido um projeto filosófico ligado ao
contributo metafísico dos clássicos e do cristianismo vigente em sua época,
Anselmo elabora uma concepção de Deus, identificando-o plenamente com a máxima
expressividade do Ser, que não deduz a sua existência de realidade alguma, que
não seja Ele mesmo.
Em busca de uma compreensão do Ser-Deus, o intelecto que se encontra diante desta sensação
existencial, suscitada por este irredutível Existente, constata a
impossibilidade de pensá-lo enquanto Não-ser, Não-verdade, Não-beleza e
Não-bondade. Pensar tal possibilidade seria como privar a potência da sua
originária potencialidade, como extinguir o alcance infinito da Verdade, da
Beleza e Bondade, plenamente presentes no Ser-Deus.
Em breve veremos outras questões sobre estes primeiros
iluministas. Boa semana a todos!
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