quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Anselmo d’Aosta e o Proslógio.



Comumente os estudiosos atribuem a expressão “média”, ao período da história da humanidade caracterizado pela expansão do cristianismo. Aqui recordaríamos a leitura unilateral do renascentista Francesco Petrarca, que por sua vez motivou o trabalho realizado pelos grandes nomes da filosofia moderna.
No entanto, o momento sucessivo ao período clássico, nos apresenta um primeiro iluminismo, precedente aos esforços da filosofia francesa, no qual os filósofos compreendem os limites e as riquezas da razão, guiados pela luz da fé. Os filósofos medievais, ou melhor, os primeiros iluministas, fizeram com que a filosofia fixasse os olhos em Deus.
Neste artigo, veremos como esta problemática se apresenta no pensamento de Anselmo d’Aosta (séc. XI), um dos expoentes do primeiro iluminismo e autor das obras: Monológio, O Gramático, A Verdade, O Livre-arbítrio, A queda do diabo e outras. Consideraremos precisamente a obra, intitulada Proslógio, (1076-1077), e perceberemos o teor especulativo deste grande autor.
O intelecto humano com suas potencialidades criativas, com suas valiosas imprecisões, consegue eleger Deus como objeto desta dinâmica do conhecimento? Quando perscruta Deus, o intelecto está diante da construção de uma ideia, ou se trata de uma concepção inata?
Quando o intelecto assume a tarefa de pensar Deus, se depara imediatamente precedido pelo Ser que se deixa encontrar, a partir das improntas que marcam a infinita diversidade das coisas criadas.
No decorrer das linhas que formam a obra Proslógio, Anselmo, acolhe o pedido dos companheiros, e apresenta posições acerca da possibilidade do conhecimento de Deus, a partir da ótica da fé, enquanto dado revelado por uma intervenção divina, mas concentrando-se ainda sobre uma ordem intelectiva, que através de uma leitura das coisas criadas, desvela a expressividade do Ser.
Tendo desenvolvido um projeto filosófico ligado ao contributo metafísico dos clássicos e do cristianismo vigente em sua época, Anselmo elabora uma concepção de Deus, identificando-o plenamente com a máxima expressividade do Ser, que não deduz a sua existência de realidade alguma, que não seja Ele mesmo.
Em busca de uma compreensão do Ser-Deus, o intelecto que se encontra diante desta sensação existencial, suscitada por este irredutível Existente, constata a impossibilidade de pensá-lo enquanto Não-ser, Não-verdade, Não-beleza e Não-bondade. Pensar tal possibilidade seria como privar a potência da sua originária potencialidade, como extinguir o alcance infinito da Verdade, da Beleza e Bondade, plenamente presentes no Ser-Deus.
Em breve veremos outras questões sobre estes primeiros iluministas. Boa semana a todos!

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