sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobre Platão: Idealismo e Dualismo.



A filosofia de Platão possui duas características fundamentais que se complementam e formam um conjunto único: o idealismo e o dualismo. O primeiro se dá numa constante busca das formas ideais, as chamadas ideias platônicas com suas características de perfeição, eternidade e imutabilidade.
Normalmente o termo idealismo não é bem recebido nas conversações coloquiais. Definir alguém como idealista acentua um interesse por coisas surreais e irrealizáveis. São coisas até necessárias, mas que não dispomos de exemplares neste universo. O idealismo platônico não é a fuga do real, mas sugere modelos a partir dos quais interpretamos as estruturas reais para conduzi-las às melhores realizações.
O segundo diz respeito ao mundo real com suas cópias que refletem palidamente as ideias salvaguardadas num mundo superior, conhecido como mundo ideal. O mundo real é marcado pelas aparências, pelas opiniões que são privas de fundamento e pelos sentidos que enganam e levam ao erro. As coisas encontradas no mundo real são privas de valor em si e existem apenas para fazer referência às ideias que as originaram. Este é o dualismo cosmológico de Platão, ou seja, é assim que ele enxerga o mundo.
Quando nos deparamos com as coisas do mundo real, nasce em nós uma recordação, uma sensação de que conhecíamos esta determinada coisa. Platão diria que é assim mesmo, é a teoria da reminiscência que torna o ato de conhecer sinônimo de recordar. Nós a conhecemos no mundo ideal, também chamado de hiperurânio. Percorrendo os verdes prados do mundo ideal, contemplávamos uma gama infinita de perfeições sem a mediação enganosa dos sentidos.
Platão faz entender que fomos banidos desta visão por termos cometido uma culpa atemporal. Penalizados, a psique foi brutalmente trancafiada num cárcere que corresponde ao nosso corpo e esqueceu tudo quanto havia contemplado. Se na leitura platônica, o corpo é uma prisão, esperamos tudo menos que a psique esteja confortável neste lugar sombrio e assustador. Este é o dualismo antropológico de Platão isto é, a sua maneira de refletir sobre o ser humano.
Aprisionada, a psique planeja sua liberdade, pois almeja rever as perfeições contempladas anteriormente e para tal se dedica ao exercício racional que é a filosofia. Surge assim com Platão a concepção de uma filosofia enquanto exercício para a morte. E deste modo encontramos páginas de existencialismo bem anteriores àquelas escritas por Sartre na filosofia contemporânea. A morte apontada por Platão possui um sentido físico? Sim. Mas também significa a morte para um estilo de vida que contraria a voz da razão: a vida sob o domínio dos sentidos.
Existe lugar para tais considerações quando discorremos sobre Platão? A indagação sobre a vida e a morte é tão antiga quanto o por do sol. Platão participou de um grupo religioso conhecido como orfismo e mesmo deixando de segui-lo, algumas questões importantes deste grupo passaram para o seu eixo filosófico. Dentre as metas da filosofia descrita por Platão, há um caráter purificador, a reorientação dos apelos dos sentidos através de uma vida guiada por aquilo que temos de melhor: a razão.

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