A
filosofia de Platão possui duas características fundamentais que se
complementam e formam um conjunto único: o idealismo e o dualismo. O primeiro
se dá numa constante busca das formas ideais, as chamadas ideias platônicas com
suas características de perfeição, eternidade e imutabilidade.
Normalmente
o termo idealismo não é bem recebido nas conversações coloquiais. Definir
alguém como idealista acentua um interesse por coisas surreais e irrealizáveis.
São coisas até necessárias, mas que não dispomos de exemplares neste universo.
O idealismo platônico não é a fuga do real, mas sugere modelos a partir dos
quais interpretamos as estruturas reais para conduzi-las às melhores
realizações.
O
segundo diz respeito ao mundo real com suas cópias que refletem palidamente as
ideias salvaguardadas num mundo superior, conhecido como mundo ideal. O mundo
real é marcado pelas aparências, pelas opiniões que são privas de fundamento e
pelos sentidos que enganam e levam ao erro. As coisas encontradas no mundo real
são privas de valor em si e existem apenas para fazer referência às ideias que
as originaram. Este é o dualismo cosmológico de Platão, ou seja, é assim que
ele enxerga o mundo.
Quando
nos deparamos com as coisas do mundo real, nasce em nós uma recordação, uma
sensação de que conhecíamos esta determinada coisa. Platão diria que é assim
mesmo, é a teoria da reminiscência que torna o ato de conhecer sinônimo de
recordar. Nós a conhecemos no mundo ideal, também chamado de hiperurânio.
Percorrendo os verdes prados do mundo ideal, contemplávamos uma gama infinita
de perfeições sem a mediação enganosa dos sentidos.
Platão
faz entender que fomos banidos desta visão por termos cometido uma culpa
atemporal. Penalizados, a psique foi brutalmente trancafiada num cárcere que
corresponde ao nosso corpo e esqueceu tudo quanto havia contemplado. Se na
leitura platônica, o corpo é uma prisão, esperamos tudo menos que a psique
esteja confortável neste lugar sombrio e assustador. Este é o dualismo
antropológico de Platão isto é, a sua maneira de refletir sobre o ser humano.
Aprisionada,
a psique planeja sua liberdade, pois almeja rever as perfeições contempladas
anteriormente e para tal se dedica ao exercício racional que é a filosofia.
Surge assim com Platão a concepção de uma filosofia enquanto exercício para a
morte. E deste modo encontramos páginas de existencialismo bem anteriores
àquelas escritas por Sartre na filosofia contemporânea. A morte apontada por
Platão possui um sentido físico? Sim. Mas também significa a morte para um
estilo de vida que contraria a voz da razão: a vida sob o domínio dos sentidos.
Existe
lugar para tais considerações quando discorremos sobre Platão? A indagação
sobre a vida e a morte é tão antiga quanto o por do sol. Platão participou de
um grupo religioso conhecido como orfismo e mesmo deixando de segui-lo, algumas
questões importantes deste grupo passaram para o seu eixo filosófico. Dentre as
metas da filosofia descrita por Platão, há um caráter purificador, a reorientação
dos apelos dos sentidos através de uma vida guiada por aquilo que temos de
melhor: a razão.
Ótimo texto! Me auxiliou muito nas pesquisas sobre Platão!
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