domingo, 1 de fevereiro de 2015

Uma Política com Aristóteles ou Maquiavel?



Quando saímos por aí na companhia da filosofia, nos deparamos com as situações triviais do quotidiano, as indagamos e nos deixamos indagar por elas. Constatamos que muitas carecem de clareza, algumas beneficiam a poucos, outras prejudicam bastante a muitos. E diante do negativo que provoca indignação percebemos que tais situações poderiam mudar. Há sempre algo externo que perecendo estimula o pensar.
O prefixo “in” está sempre nos desafiando, mostrando que é superior a nós, que somos pequenos e por isso não conseguimos removê-lo do caminho. Retomando considerações platônicas, diríamos que as situações externas de in-satisfação, de in-segurança e de in-justiça, despertam os sentidos internos de satisfação, de segurança e de justiça.
Estas três pequenas palavras estimularam muito a reflexão filosófica e política. Já na Ética a Nicômaco e na Política, Aristóteles desenhava uma cidade dotada de instituições justas que garantiriam o desenvolvimento das potencialidades, dos talentos próprios dos cidadãos. Na ótica de Aristóteles, a cidade não é o monstro que nos devora, mas sim, o palco cênico das nossas realizações, o horizonte no qual nos realizamos enquanto projetos humanos.
Ao longo dos séculos não vimos tantas repercussões da proposta política de Aristóteles. Os fatos nos levam a concluir que a política atual herda muito mais de Maquiavel, e quase nada da filosofia clássica.
Enquanto a proposta de Maquiavel está concentrada sobre a manutenção do poder, a política aristotélica busca um ideal de felicidade através do exercício da cidadania, compreendida como a participação efetiva do cidadão nas questões que determinam os rumos da cidade.
Na obra O Príncipe, Maquiavel descreve o perfil do governante. Construído sobre a noção de aparência, o seu edifício ético desfavorece qualquer formação teórica em prol da capacidade de dissimular através dos ilusionismos políticos. Noutras palavras, o governante é aquele que tem as características do leão e da raposa, e somente com a soma da força e da astúcia alcançaria a realização dos fins almejados.
Sendo assim encontramos uma característica dominante na perspectiva do pensador florentino: o descaso com o povo considerado apenas como massa de manobra para os jogos do poder e incapaz de realizar qualquer leitura crítica do próprio cenário político.
Estes mesmos pressupostos podem ser verificados também no contexto político brasileiro? Maquiavel ensinou que o político não precisa ser, mas tão somente parecer, e os governos de tendência populista como os do Brasil, não hesitam em propagandear qualidades de vida que são sempre menos direito de todos e sempre mais privilégio de poucos.

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