Quando saímos
por aí na companhia da filosofia, nos deparamos com as situações triviais do
quotidiano, as indagamos e nos deixamos indagar por elas. Constatamos que
muitas carecem de clareza, algumas beneficiam a poucos, outras prejudicam
bastante a muitos. E diante do negativo que provoca indignação percebemos que tais
situações poderiam mudar. Há sempre algo externo que perecendo estimula o
pensar.
O prefixo “in” está sempre nos desafiando,
mostrando que é superior a nós, que somos pequenos e por isso não conseguimos
removê-lo do caminho. Retomando considerações platônicas, diríamos que as
situações externas de in-satisfação,
de in-segurança e de in-justiça, despertam os sentidos
internos de satisfação, de segurança e de justiça.
Estas três pequenas
palavras estimularam muito a reflexão filosófica e política. Já na Ética a Nicômaco e na Política, Aristóteles desenhava uma
cidade dotada de instituições justas que garantiriam o desenvolvimento das
potencialidades, dos talentos próprios dos cidadãos. Na ótica de Aristóteles, a
cidade não é o monstro que nos devora, mas sim, o palco cênico das nossas
realizações, o horizonte no qual nos realizamos enquanto projetos humanos.
Ao longo dos
séculos não vimos tantas repercussões da proposta política de Aristóteles. Os
fatos nos levam a concluir que a política atual herda muito mais de Maquiavel,
e quase nada da filosofia clássica.
Enquanto a
proposta de Maquiavel está concentrada sobre a manutenção do poder, a política aristotélica
busca um ideal de felicidade através do exercício da cidadania, compreendida
como a participação efetiva do cidadão nas questões que determinam os rumos da cidade.
Na obra O Príncipe, Maquiavel descreve o perfil
do governante. Construído sobre a noção de aparência, o seu edifício ético desfavorece
qualquer formação teórica em prol da capacidade de dissimular através dos
ilusionismos políticos. Noutras palavras, o governante é aquele que tem as
características do leão e da raposa, e somente com a soma da força e da astúcia
alcançaria a realização dos fins almejados.
Sendo assim
encontramos uma característica dominante na perspectiva do pensador florentino:
o descaso com o povo considerado apenas como massa de manobra para os jogos do
poder e incapaz de realizar qualquer leitura crítica do próprio cenário
político.
Estes mesmos pressupostos podem
ser verificados também no contexto político brasileiro? Maquiavel ensinou que o
político não precisa ser, mas tão
somente parecer, e os governos de
tendência populista como os do Brasil, não hesitam em propagandear qualidades
de vida que são sempre menos direito de todos e sempre mais privilégio de
poucos.
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