domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sobre Platão: Analogia e Filosofia.



A analogia foi um dos instrumentos utilizados por Platão para expor filosofia. A palavra analogia é formada por dois termos: “ana” e “logos”.  O primeiro significa “para o alto”, o segundo, “discurso”. Toda analogia implica um discurso para o alto. São tomadas em consideração imagens e situações do cotidiano, com o intuito de elucidar questões que as superam. O discurso filosófico parte de uma constatação comum para ultrapassá-la. Esta superação do comum apresenta a filosofia como movimento de interpretação. Em outros termos, a filosofia se move numa metalinguagem. O seu discurso não se exaure no mero descritivo, mas prevê a passagem rumo ao interpretativo.
A imagem da segunda navegação elucida quanto afirmo. Platão utiliza uma imagem cara aos seus interlocutores e descreve este momento fácil e tranquilo que consiste na primeira navegação. Esta facilidade provém do fato que o navegador conta com a força dos ventos que sopram sobre as velas e levam a embarcação para o mar. Nesta etapa da trajetória não há como tocar a eficácia do navegador. Platão explica que esta impetuosidade dos ventos refere-se ao momento da filosofia pré-socrática marcada pela busca de um princípio ordenador do universo, uma causa primeira através da qual se esclareça o surgimento de tudo aquilo que vemos, tocamos e experimentamos.
Na leitura dos pré-socráticos, esta causa explicativa do universo residia nos elementos naturais, equivalia a uma realidade física identificada com a água (Tales), com o ar (Anaxímenes), com o indeterminado (Anaximandro) e com os átomos (Demócrito). A primeira abordagem filosófica desenvolveu-se nos quadros da física. Somente com a chegada de Sócrates houve um deslocamento, a filosofia debruçou-se sobre o universo humano e tornou-se antropológica.
Platão considera ainda a primeira navegação como o momento de domínio da opinião. A opinião é ausência de fundamento. A ciência, reflexo da filosofia, é presença de fundamento. Sob a hegemonia das opiniões que sopram sobre as velas do pensar, o navegador não assume protagonismo algum nos roteiros do conhecimento. Mais que conduzir, o condutor é conduzido, aceitando que as rotas da travessia sejam definidas por saqueadores que usurpam a autonomia do pensar.
Cessados os ventos o navegador encontra-se em alto mar, exposto aos perigos característicos desta situação. Faz-se necessário uma decisão com a qual se verá a desenvoltura do navegador que utilizará os remos para ajudar os companheiros e salvar a própria pele. Mover os remos sugere um esforço físico até então desconhecido. É preciso movimentar os braços de forma sincrônica e traçar as rotas que levarão para onde se quer ir e não para onde os ventos querem levar. Esta é a segunda navegação.
Na explicação de Platão o empenho físico cede lugar ao esforço racional que é o claro sinônimo de toda proposta filosófica. A filosofia é esforço crítico que delineia os percursos do conhecimento sem delegar a outros rumos e metas, sem alienar o papel do sujeito nesta intransferível tarefa, sem terceirizar o que mais caracteriza a trajetória humana: a capacidade de pensar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário