Quantas
vezes já nos fizemos ou nos deparamos diante da pergunta: o que é filosofia? As
respostas são as mais variadas possíveis. Comumente a concebemos como algo
distante, que não está aqui conosco. Incapaz de ser descrita com o nosso
vocabulário coloquial. Surge uma concepção segundo a qual a filosofia é para
poucos selecionados pela vida. É para pessoas livres de preocupações cotidianas
que se dedicam a criação de expressões tão complexas e eruditas que jamais serão
compreendidas por meros mortais.
O
que a filosofia faz com os seus filósofos é apenas para eles mesmos. Não é para
gente como nós que vive num país que está entre as dez potências econômicas da
Terra e, no entanto os seus serviços públicos quais saúde, educação,
transporte, segurança e outros, remontam a um estado de descaso e precariedade.
O que nós queremos são melhorias e não filosofia. Nós queremos coisas mais
concretas e imediatas, não podemos perder tempo com estes devaneios da
filosofia.
Penso
que tais considerações são justas. Talvez dependam também do modo como
apresentamos e discutimos sobre questões filosóficas. O academicismo e a
carência de exemplos tornam a filosofia “coisa de louco” e não para pessoas
normais como nós. As páginas dos escritos de Platão com os seus vários exemplos
mostram que a filosofia não surgiu para ser cultuada sobre um pedestal diante
do qual nós súditos nos curvamos em sinal de reverência e adoração.
A
filosofia surge qual companheira para alertar e auxiliar na leitura que fazemos
do todo e de nós mesmos. A filosofia não traz uma leitura passiva e
conformista. Esta é a leitura da ideologia que possui um movimento contrário ao
da filosofia.
A
ideologia torna obscuro, a filosofia esclarece. A ideologia visa encobrir, a filosofia,
descobrir. A ideologia visa mascarar, a filosofia, desvelar. A ideologia visa
limitar, a filosofia, ampliar. A ideologia distancia e mata, a filosofia
aproxima e ressuscita.
A
leitura da filosofia averigua e desmistifica, reage contra as miragens que
confundem aparência com realidade. A leitura da filosofia critica aquilo que se
apresenta como último e definitivo, como algo consolidado e inquestionável. O
intuito da filosofia é mover o pensar. Desestabilizar quaisquer situações de
caráter político, social, religioso e outros que nos mantenham acorrentados e
impeçam o desenvolvimento de nossas aptidões e capacidades.
A
filosofia não questiona as nuvens e as estrelas. Quando começa a realizar os
primeiros passos e a balbuciar as primeiras palavras, a filosofia assume a
cidade e seus múltiplos elementos, como horizonte dos seus questionamentos. A
filosofia surge procurando saber o que acontece na cidade, o que fazemos com
ela e o que ela faz conosco através das decisões tomadas por aqueles que a
governam.
Ideologia?
A filosofia é muito mais útil pra viver.
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