sábado, 14 de fevereiro de 2015

Filosofia ou Ideologia pra viver?



Quantas vezes já nos fizemos ou nos deparamos diante da pergunta: o que é filosofia? As respostas são as mais variadas possíveis. Comumente a concebemos como algo distante, que não está aqui conosco. Incapaz de ser descrita com o nosso vocabulário coloquial. Surge uma concepção segundo a qual a filosofia é para poucos selecionados pela vida. É para pessoas livres de preocupações cotidianas que se dedicam a criação de expressões tão complexas e eruditas que jamais serão compreendidas por meros mortais.
O que a filosofia faz com os seus filósofos é apenas para eles mesmos. Não é para gente como nós que vive num país que está entre as dez potências econômicas da Terra e, no entanto os seus serviços públicos quais saúde, educação, transporte, segurança e outros, remontam a um estado de descaso e precariedade. O que nós queremos são melhorias e não filosofia. Nós queremos coisas mais concretas e imediatas, não podemos perder tempo com estes devaneios da filosofia.
Penso que tais considerações são justas. Talvez dependam também do modo como apresentamos e discutimos sobre questões filosóficas. O academicismo e a carência de exemplos tornam a filosofia “coisa de louco” e não para pessoas normais como nós. As páginas dos escritos de Platão com os seus vários exemplos mostram que a filosofia não surgiu para ser cultuada sobre um pedestal diante do qual nós súditos nos curvamos em sinal de reverência e adoração.
A filosofia surge qual companheira para alertar e auxiliar na leitura que fazemos do todo e de nós mesmos. A filosofia não traz uma leitura passiva e conformista. Esta é a leitura da ideologia que possui um movimento contrário ao da filosofia.
A ideologia torna obscuro, a filosofia esclarece. A ideologia visa encobrir, a filosofia, descobrir. A ideologia visa mascarar, a filosofia, desvelar. A ideologia visa limitar, a filosofia, ampliar. A ideologia distancia e mata, a filosofia aproxima e ressuscita.
A leitura da filosofia averigua e desmistifica, reage contra as miragens que confundem aparência com realidade. A leitura da filosofia critica aquilo que se apresenta como último e definitivo, como algo consolidado e inquestionável. O intuito da filosofia é mover o pensar. Desestabilizar quaisquer situações de caráter político, social, religioso e outros que nos mantenham acorrentados e impeçam o desenvolvimento de nossas aptidões e capacidades.
A filosofia não questiona as nuvens e as estrelas. Quando começa a realizar os primeiros passos e a balbuciar as primeiras palavras, a filosofia assume a cidade e seus múltiplos elementos, como horizonte dos seus questionamentos. A filosofia surge procurando saber o que acontece na cidade, o que fazemos com ela e o que ela faz conosco através das decisões tomadas por aqueles que a governam.
Ideologia? A filosofia é muito mais útil pra viver.

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