sábado, 1 de novembro de 2014

Fé e Política com a releitura de Jacques Maritain



O II Seminário Fé e Política “Dom Helder Câmara: Fé, política e realidade local”, realizado durante os dias 08 e 09 de agosto com a colaboração do Conselho arquidiocesano de leigos (Conal), OAB e UFS, nos colocou diante das relações que entrelaçam fé e atividade política. Estabelecidas a partir do pluralismo sociocultural vigente na sociedade, tais relações evitam as instrumentalizações reducionistas e constroem pontes largas e seguras em prol das concretizações da cidadania.
Com esta irrequieta noção que implica vários desdobramentos, construímos a mais sólida das relações entre fé e política, pois esta revela o escopo comum almejado por ambas. Se a boa política visa o crescente exercício da cidadania, a fé autêntica procura as melhores repercussões do seu próprio ato de crer.
Aqui recordamos um grande homem cristão, que dedicou o seu itinerário intelectual para mostrar a possibilidade de relacionar fé e política sem confundi-las e respeitando as suas identidades. Jacques Maritain, através de tantas obras, como “O filósofo na cidade”; “O Homem e o Estado”; “Humanismo integral” e outras, mostrou que juntas, fé e politica, transformam-se em ferramentas indispensáveis para todo verdadeiro processo de humanização.
Escrita nos anos trinta, “Humanismo Integral” suscitou grande admiração pelo teor inovador e pela capacidade de articulação, mas reservou também muitas críticas, colocadas sobre os ombros de Maritain. Neste período da história, a democracia era algo novo, até mesmo pouco confiável, não se sabia para onde nos levaria e todas estas tensões pairavam sobre a obra de Maritain, que diante da crise das monarquias europeias, trazia a proposta de uma aproximação entre fé e política democrática.
Dentre as acusações que atingiram o trabalho realizado por Maritain, destaca-se a que consiste em compreender a obra “Humanismo Integral”, como o ato de fundação de um partido político próprio da Igreja católica. Nesta direção caminharam nomes ilustres como Eduardo Frei, Manuel Ordóñez, Franco Montoro, Amoroso Lima e outros que deram vida ao chamado “Movimento de Montevidéu”.
Com a clareza que caracteriza a perspectiva francesa, Maritain responde aos seus críticos afirmando que com a obra “Humanismo Integral” não deseja criar um partido da Igreja católica, mas sim inseri-la na complexidade dos partidos políticos.
Recordando dom Helder Câmara, o homem que dinamizou a Igreja católica e a sociedade brasileira, o II Seminário Fé e Política retomou o sonho de Maritain: despertar o cristianismo, para que as suas forças vitais inspirem uma atividade política sempre mais comprometida com o valor inalienável que é a pessoa humana.

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