Qual
a cor e o tamanho do ar que movimenta os pulmões e predispõe o ser humano para
as suas atividades? Qual a cor e o tamanho da voz que expressa articulações
internas transmissoras de finalidades e de controvérsias? Mesmo privo de cor,
constata-se a presença do ar no amplo conjunto das expressões humanas, das mais
simples até as mais complexas. Nos furacões devastadores de cidades como o
Katrina que em 2005 destruiu Nova Orleans, nos EUA. No recém-nascido, acolhido
e festejado pela família humana que o aguarda munida de cuidado e carinho.
Se
a voz não é identificada por uma cor, esta é vista trêmula na aflição causada
pelo assaltante e diante do gol feito pelo jogador, a voz se vê exultante.
Assim acontece com a cidadania. Esta é lida a partir daquilo que a aniquila. Se
a insuficiência respiratória é causa mortis, a falta de participação origina
politicamente este fim reservado aos que não se interessaram por política e por
isso geraram governantes que a manuseiam visando os interesses próprios. Não há
cidadania quando se é impedido de falar e quando se é impedido de ouvir.
A
cidadania germina quando vez e voz são garantidas sem obstáculo algum,
considerando que a autoridade constituída deriva do povo. Não é possível pensar
a cidadania como exercício reservado aos períodos eleitorais que originam os
representantes. Comparada ao ar, a cidadania implica uma atividade contínua.
Semelhante à voz, a cidadania inicia-se desde os primeiros sons balbuciados até
a voz madura, consciente de si, dos limites impostos e das superações exigidas.
Quais os caminhos percorridos pela cidadania? Como defender a vez e a voz que
pertence exclusivamente ao povo? São questões que as democracias modernas
precisam responder. Passadas as eleições, instaura-se um abismo entre o eleitor
e o eleito. E logo se esquece de que o eleito é um servidor do povo e não de si
mesmo. Quanto benefício e quanto prejuízo, o vereador pode causar ao município?
E assim, o deputado estadual ao seu Estado? Os deputados federais e senadores
ao inteiro país? E como a cidadania evita que tudo o que foi conquistado seja
depredado?
É
bom que de tanto em tanto, a democracia saia dos palácios e refresque-se nas
ruas que são o seu ambiente natural. É desejável que este retorno as suas
origens a torne mais madura e eficaz na concretização dos seus princípios
fundamentais. Uma das tarefas basilares das democracias modernas reside na
construção dos canais de inclusão. Estes por sua vez, remetem aos serviços
públicos que são deveres de um Estado relapso na sua função de inclusão. Neste
Brasil intrigante, serviço público e qualidade são termos diametralmente
opostos. Logo nos primeiros meses de cada ano, o impostômetro acumula cifras
gigantescas que não retornam ao povo através dos esperados serviços. A escola,
a saúde e a segurança públicas apresentam lacunas que são respondidas com o
caro auxílio do privado. As escolas particulares que florescem na cidade, os
planos de saúde, as agências de segurança, provocam a vez e voz da cidadania
que desperta do sono, dirige a inevitável pergunta: O que faz o Estado com o
que é arrecadado?
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