sábado, 24 de janeiro de 2015

Sobre a Religião: Diversidade e Identidade



As valiosas descobertas científicas e tecnológicas, os avanços socioeconômicos, as reduções de mortalidade infantil, a crescente expectativa de vida e outros elementos que formam o contemporâneo, fazem perguntar: Precisamos mesmo da religião? Não seria um modelo ultrapassado que insistimos em utilizá-lo? Não seria melhor que a laicidade dos países esbravejasse e expulsasse dos territórios toda sombra de religião?
Há questões de cunho religioso que buscam respostas, como por exemplo: Todas as religiões são iguais? Existem religiões superiores e inferiores? Neste caso, qual seria o critério de classificação? No contexto sócio-brasileiro, tais questões exigiriam ulteriores desdobramentos, pois levariam a indagar o fluxo de religiões que surgem nesta Terra de Santa Cruz: Quais os princípios do protestantismo, dos credos afro-brasileiros, do espiritismo? O catolicismo tem algo a dizer? Ou na arena das religiões, o catolicismo se recupera dos nocautes impostos por religiões jovens e bem treinadas? Há um coeficiente comum entre Buda e Cristo? Entre Dalai lama e Papa Francisco?
As especificidades das interrogações apresentadas se reencontram na seguinte questão: O que é religião? Podemos simplesmente repensá-las de tal modo que a religião se manifesta como proposta que se apoia sobre uma noção de revelação. São os deuses que antropomorfizados, se revelam aos seres humanos e satisfazem desejos mediante a observação de determinadas regras. Sobre os altares dos deuses gregos e romanos, dos indígenas latino-americanos, dos afro-brasileiros e de outros povos, repousaram inúmeros sacrifícios, pedindo ou agradecendo um benefício recebido: uma caça bem sucedida, o êxito da colheita, o retorno dos conflitos com os inimigos destruídos.
Filho do hebraísmo, o cristianismo é uma religião do sacrifício. Lembremos das páginas bíblicas nas quais um pedido é dirigido a Abraão que no diálogo com o divino, se mostra pronto para oferecer imolado o próprio filho (cf. Gênesis 22,12). A religião esclarece os contornos da revelação do transcendente que se relaciona com o imanente para beneficiá-lo ou corrigi-lo. Sendo assim, é correto afirmar que na religião temos uma autêntica ética da revelação.
Baseada sobre a revelação e o sacrifício, relemos a religião como autêntico lugar da promessa que insere no presente a constante preocupação com o futuro. Ainda nas linhas bíblicas, encontramos um diálogo entre Jesus e um personagem que ilustraria quanto dito. “Que devo fazer para ter a vida eterna?” (cf. Mateus 19,16-22) evidencia que os modelos comportamentais presentes na religião, visam algo que ultrapassa o horizonte circunscrito do imediato. Há uma tensão metafisica na religião, que provoca a ética e a lança para além de si mesma.

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