O grande Agostinho, um
dos maiores expoentes da patrística na filosofia medieval, participou por muito
tempo de uma corrente de pensamento denominada maniqueísmo. Esta proposta
concebia o cosmo a partir dos princípios criadores do bem e do mal. Uma das perguntas
que dinamizaram a perspectiva filosófica de Agostinho pode ser formulada da
seguinte maneira: “Si Deus est, unde
malum?”, isto é, “Se Deus existe,
qual a origem do mal?”.
Insatisfeito com as
posições do maniqueísmo e impulsionado por uma busca contínua de respostas aos
seus questionamentos, Agostinho encontra o cristianismo através das colocações
de Ambrósio, responsável pelos cristãos presentes no território de Milão. A
partir deste momento, Agostinho concebe a questão acerca do mal noutros termos.
Para o pensador africano, o mal não é. Não participa da categoria de ser, muito
pelo contrário, o mal implica sempre uma defectus
boni, uma privação, uma ausência de ser. Esta carência de ser que determina
o mal decorre do fato que os entes são bons, mas não são dotados da bondade
absoluta que pertence exclusivamente a Deus.
Quando encaramos o mal
que é defectus boni, como defectus voluntatis, ou seja, ausência
de vontade, este passa a desenvolver conotações éticas. Em si mesmo o livre
arbítrio é sempre algo bom, pois procede de Deus, o que acontece é que por
vezes, fazemos um mau uso deste instrumento que acompanha a nossa natureza
racional. É possível que não escolhamos o ser e façamos uma opção pela ausência
de ser. Aqui encontramos um espaço favorável para evocar a noção grega de paideia, isto é de uma educação que
revestida com as características do cristianismo, faça com que escolhamos
livremente aquilo que agrada a Deus, Ser em plenitude.
Por conseguinte, tais
escolhas formam a história que também ocupou um lugar central no pensamento de
Agostinho. O princípio de contingência é o ponto de partida da releitura
agostiniana da história. Noutras palavras, a contingencialidade é a base
necessária para que haja história. Não narramos à eternidade. Somente partindo
de um início e um fim, compreendemos aquele vínculo criatural através do qual a
criatura não apenas emana, mas retorna para Deus.
A contingência traz
consigo mesma o princípio de sucessão, não apenas no seu caráter externo, mas
também assumindo aquele acento interno que nos permite retomar as escolhas,
descrevê-las e torná-las história. Para Agostinho, é a interioridade humana que
se encarrega de tornar presente o passado e deste modo projetá-lo no futuro. É
no interior humano que a história temporal se manifesta como lembrança, atenção
e expectativa.
As escolhas de cada
sujeito se inserem na história de outras pessoas próximas e distantes, de uma
comunidade, de um povo, e continuamente formulam e reformulam a história da
humanidade. O presente é o breve instante de som, que se instaura entre os dois
grandes silêncios do passado vivido e do futuro esperado, no qual as histórias
temporal e pessoal se abrem ao Eterno necessário.
As escolhas de cada sujeito se inserem na história de outras pessoas próximas e distantes, de uma comunidade, de um povo, e continuamente formulam e reformulam a história da humanidade.
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