As
situações que se apresentam com as cores da violência rompem as correntes de um
silêncio descomprometido com oscilações que ferem o fenômeno humano. Diante
destas, perguntamos: O que é a sociedade? Qual o seu bem mais precioso? A
religião e a imprensa ajudam a descobri-lo?
Estas
perguntas que aqueceram as reflexões de grandes pensadores desde os tempos mais
remotos, continuam apresentando desafios, suscitando reformulações e provocando
repostas. Aqui não trilharemos posições pontuais elaboradas ao longo dos
séculos. Seria mais saudável que hoje percebêssemos a pertinência destas
perguntas sem os aspectos terminológicos que as elucidam, mas correm os riscos
de artificializá-las, transformando-as em cargas pesadas e inanimadas que
precisam de constante auxílio para se locomover.
Considerando
a experiência comum, enxergamos a sociedade enquanto realidade dinâmica. Não
conseguimos segurá-la, pois esta foge continuamente entre os nossos dedos. A
multiplicidade que nasce da relação entre os singulares é o motor que alimenta toda
e qualquer dinâmica social. Já que não é o resultado da soma de iguais, a
sociedade não estabelece alianças com a uniformidade. Tornar a sociedade
homogênea seria o mesmo que empobrecê-la e destruí-la.
A
diferença é o melhor sobrenome da sociedade humana. Lugar de convívio entre os
diferentes, a sociedade é palco de conflitos que nascem do medo que temos do
desconhecido. No séc. XVI Montaigne nos presenteou com a célebre expressão: “Chamamos bárbaro, aquilo que não
conhecemos”. Desde então vemos com maior clareza quanto é perigosa a
ausência de conhecimento. Quantos erros cometidos no decorrer da história pelo
simples desconhecer? Conhecer é unir e não uniformizar. Conhecer é acolher e
não banir. Conhecer é educar e não punir. Conhecer é proteger e não agredir.
A
religião pode contribuir largamente para ampliar as repercussões sociais do
conhecimento. Nas suas raízes, a religião se apoia sobre a partilha da palavra
proferida. Sem recorrer ao caráter etimológico da questão, afirmamos que a
religião é naturalmente evangélica, pois traz consigo mesma o novo que
amedronta e entusiasma. Quando profere a palavra, a religião se torna
conhecimento que reúne imanência e transcendência no complexo canal social que
chamamos de Outro. No seu interminável processo de aprimoramento, a religião é um
caminho de alteridade.
Como
os demais segmentos sociais, a religião jamais será perfeita, uma vez que é a junção
de seres imperfeitos em busca de perfeição. Na religião, temos um critério
hermenêutico fundamental para uma correta leitura da diferença no contexto
social. A diferença não deve ser cancelada com a violência. Assim compreendida,
a diferença cumpre o seu verdadeiro papel de conduzir ao diferente. Na
diferença não há espaços para infiéis nem para inimigos. Dissipada a
indiferença, nos enxergamos como próximos, como sócios comprometidos com
valores meta-sociais, meta-religiosos visto que estão na sociedade, na religião
e ao mesmo tempo as superam.
Dentre
estes valores, ressaltamos o que consiste na tolerância. Quando prescindem desta
última e planejam a supressão do diferente, a política, a religião e a imprensa
ferem aquela vocação comum que as transforma em instrumentos de inserção
social. Tolerar não é a simples e fatídica resignação diante do Outro nos seus
traços peculiares, mas enxergá-los como elementos da diversidade constitutiva
do bem comum da sociedade. Distantes do vínculo da tolerância nos forçam a
respirar os ares da agressão que sufocam os laços de proximidade e as parcerias
vitais indispensáveis para o bem-estar da sociedade.
A
filosofia pode ajudar a interrogá-las. Como? Revendo com a política os planos
de governo. Com a religião, o escopo de celebrações e cultos. Com a imprensa, o
teor de artigos e reportagens. Somente através de questionamentos que revejam
as práxis atuais destes segmentos, daremos a sociedade uma política, uma
religião e uma imprensa sempre mais inclusivas e humanistas.
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