Aqui e acolá tenho afirmado que a
filosofia nasce política. Noto que esta simples afirmação é absorvida por uns e
gera impacto em outros. Se olhássemos para a cultura grega na qual nasceu a
filosofia com a qual lidamos no ocidente, veríamos que estamos diante de uma
das culturas mais politeístas presenciada pela história. Mesmo assim a
filosofia jamais foi apresentada como o resultado da relação entre os deuses,
nem como derivada da atração dos deuses pelos humanos. A filosofia não é filha
dos deuses, mas da humanidade e carrega consigo virtudes e mazelas.
A filosofia não foi agraciada com
poderes taumatúrgicos, nem sequer assumiu o papel de lâmpada mágica que
solucionaria os problemas sociais, políticos e econômicos. Quantos problemas
passearam diante dos olhos da filosofia e não foram solucionados? O próprio
Sócrates foi banido da cidade pela sua proposta filosófica. Não sei se a tarefa
central da filosofia consiste em resolver problemas, quase como se gerasse em
seus interlocutores uma habilidade em mitigar conflitos. Talvez ainda não
enxergamos claramente a fragilidade e os limites da filosofia, sobretudo nós
que nascemos numa cultura que privilegia o homo
faber dissociado do homo sapiens.
Há uma percepção bem mais
imediata da utilidade das lâmpadas numa residência ou numa sala com aulas
noturnas do que a mediação do pensar proposta pela filosofia. Há uma
dificuldade em compreender os laços que unem pensar e fazer. Se quiséssemos
tocaríamos questões que animaram os debates entre racionalistas e empiristas. Há
uma dificuldade em conceber o pensar enquanto produção. Quando usamos o termo
construção, o revestimos de materialidade. Dizemos: “É preciso construir a
casa”, ou “A praça foi construída”. É ainda raro entender o pensar enquanto
algo que ao mesmo tempo deriva de uma produção e gera uma produção. Pensar
implica criar e a filosofia auxilia nesta criação. Não há poiesis desvinculada do pensar e a filosofia possui um lugar neste
processo de produção/inovação.
O perfil de filosofia visto desde
os seus primeiros passos não é aquele de uma reflexão sobre o firmamento. A
filosofia não nasce da união entre o sol e a lua, não está candidamente
dançando sobre as estrelas. Tenho afirmado que a filosofia nunca quis ser o
brinquedo dos intelectoides. Nascida da polis, sua crítica é dirigida a esta
mesma polis, constituída por pessoas reais e instituições reais. As
repercussões do idealismo platônico mostram que nem sempre o real é sinônimo de
bom, de belo, de verdadeiro e de justo. Uma correta leitura do mesmo o enxergará
não como uma fuga do real, mas como um momento de parêntesis. Na linguagem da
fenomenologia de Husserl, diríamos que se trata de uma epoqué, de uma retirada sim, porém destinada a um retorno mais
incisivo sobre o real.
Tenho na minha humilde opinião de estudante raso da filosofia que, a filosofia funciona como contingente de pensamentos que busca guiar a absorção e inovação dos conhecimentos para que possamos chegar o mais próximo do que seja a verdade.
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