quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Filosofia: Origem e Obstáculo.

Aqui e acolá tenho afirmado que a filosofia nasce política. Noto que esta simples afirmação é absorvida por uns e gera impacto em outros. Se olhássemos para a cultura grega na qual nasceu a filosofia com a qual lidamos no ocidente, veríamos que estamos diante de uma das culturas mais politeístas presenciada pela história. Mesmo assim a filosofia jamais foi apresentada como o resultado da relação entre os deuses, nem como derivada da atração dos deuses pelos humanos. A filosofia não é filha dos deuses, mas da humanidade e carrega consigo virtudes e mazelas.
A filosofia não foi agraciada com poderes taumatúrgicos, nem sequer assumiu o papel de lâmpada mágica que solucionaria os problemas sociais, políticos e econômicos. Quantos problemas passearam diante dos olhos da filosofia e não foram solucionados? O próprio Sócrates foi banido da cidade pela sua proposta filosófica. Não sei se a tarefa central da filosofia consiste em resolver problemas, quase como se gerasse em seus interlocutores uma habilidade em mitigar conflitos. Talvez ainda não enxergamos claramente a fragilidade e os limites da filosofia, sobretudo nós que nascemos numa cultura que privilegia o homo faber dissociado do homo sapiens.
Há uma percepção bem mais imediata da utilidade das lâmpadas numa residência ou numa sala com aulas noturnas do que a mediação do pensar proposta pela filosofia. Há uma dificuldade em compreender os laços que unem pensar e fazer. Se quiséssemos tocaríamos questões que animaram os debates entre racionalistas e empiristas. Há uma dificuldade em conceber o pensar enquanto produção. Quando usamos o termo construção, o revestimos de materialidade. Dizemos: “É preciso construir a casa”, ou “A praça foi construída”. É ainda raro entender o pensar enquanto algo que ao mesmo tempo deriva de uma produção e gera uma produção. Pensar implica criar e a filosofia auxilia nesta criação. Não há poiesis desvinculada do pensar e a filosofia possui um lugar neste processo de produção/inovação.
O perfil de filosofia visto desde os seus primeiros passos não é aquele de uma reflexão sobre o firmamento. A filosofia não nasce da união entre o sol e a lua, não está candidamente dançando sobre as estrelas. Tenho afirmado que a filosofia nunca quis ser o brinquedo dos intelectoides. Nascida da polis, sua crítica é dirigida a esta mesma polis, constituída por pessoas reais e instituições reais. As repercussões do idealismo platônico mostram que nem sempre o real é sinônimo de bom, de belo, de verdadeiro e de justo. Uma correta leitura do mesmo o enxergará não como uma fuga do real, mas como um momento de parêntesis. Na linguagem da fenomenologia de Husserl, diríamos que se trata de uma epoqué, de uma retirada sim, porém destinada a um retorno mais incisivo sobre o real.



Um comentário:

  1. Tenho na minha humilde opinião de estudante raso da filosofia que, a filosofia funciona como contingente de pensamentos que busca guiar a absorção e inovação dos conhecimentos para que possamos chegar o mais próximo do que seja a verdade.

    ResponderExcluir