quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Filosofia e Sociologia: uma leitura do fato.

A professora Cristina Costa, na sua obra, “Sociologia: Introdução à ciência da sociedade” possui um capítulo que aborda “A sociologia de Durkheim”. Neste, o fato social é apresentado como objeto desta jovem e intrépida ciência, consolidada nas primícias do século XIX. O fato de lê-lo como sinônimo de coerção impõe sobre o mesmo um caráter inibidor. É como se o fato usurpasse aquele protagonismo da pessoa humana ao vivenciá-lo. Assim deslocada, a pessoa humana é vivenciada, ou melhor, mutilada pelo fato social que endossa as vestes do opressor.
A coerção enquanto marca indelével do fato, possui um aspecto legal presente no emaranhado de leis derivado dos processos de adaptação social e um aspecto espontâneo que diz respeito aos costumes adotados que regulamentam a sociedade. Nem sempre tivemos nos lares uma edição da Constituição. O que não significa que os lares foram desprovidos de lei. Houve um tempo no qual o sinal de pare mais eficaz foi o olhar dos pais. Não estavam escritas, mas exerceram igualmente o papel das leis. “Aqui há um horário para chegar!”, “O seu quarto deve está arrumado!”, “Você tem a obrigação de tirar notas boas!”. Estas leis não escritas, com bônus e sanções criaram o necessário exercício para a liberdade. Promulgadas e revogadas por aqueles que por primeiro apresentaram o caráter distributivo e comutativo da justiça, estas leis prepararam o uso da liberdade em sociedade.
O fato estimado pela sociologia é conhecido pela sua exterioridade. Este seria quase uma espécie de ser violento e faminto, com garras bem afiadas das quais não podemos escapar. O fato na sua generalidade é um monstro que ataca e devora, assim que começa a tessitura das tramas sociais. A direção privilegiada por este fato estrangulador é a educação. Há um leque da cultura francesa que costuma apedrejar a educação apontando-a como instrumento de opressão, como a transmissora direta de conformismos que dificultam a construção do conhecimento. Parece ser esta também a leitura feita por Foucault.
A filosofia diz que há controvérsias. É correto ler uma ciência apenas a partir da deficiência dos seus operadores? A medicina está descredenciada pelo erro cirúrgico de um médico? O direito está cancelado pela má atuação de um advogado? Enxergar o fato maximizando a sua coercibilidade não seria o mesmo que dilacerá-lo? O fato apenas coage? Não se extrai do fato a força da projetualidade? O fato não apenas desabriga, mas ampara. O fato não apenas desapropria, mas motiva. O fato não apenas aprisiona, mas liberta.
A problematização da liberdade talvez seja uma das discussões mais intrigantes em sede filosófica. Se os peixes que sobrevivem no rio Poxim sobrevoassem as ruas da capital sergipana, o que aconteceria com eles? A liberdade é uma característica inalienável da pessoa humana? O ser humano é livre de que e para que? A liberdade é concedida por um Ser supremo ou é preciso conquistá-la? Liberdade e racionalidade se relacionam? A restrição parece predominar naqueles seres que possuem a noção de infinito. A ferramenta mais eficaz para a construção da liberdade é o determinismo. O ato de ser implica determinar.

3 comentários:

  1. Muito interessante a vião de ambos abrangem fatos reais do cotidiano. E bem esclarecedor o ponto de vista. Muito produtivo.

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  2. Ah essa tal liberdade que nos leva a contradição !Parabens pelo texto.

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