Sabemos que a reflexão filosófica não
nasce com o cristianismo, nem mesmo depende exclusivamente deste último, mas
isto não significa que a nossa tentativa de relacioná-los seja algo forçado ou
até mesmo arbitrário.
Evitando qualquer espécie de confusão
entre os papéis destas duas esferas que compõem a nossa realidade quotidiana,
nós não iremos identifica-las completamente, pois assim correríamos o risco de
não conseguir distingui-las, o que seria outro erro tão grave quanto aquele que
consiste em opô-las brutalmente.
Queremos mostrar que é necessário que as
correntes filosóficas que dispensam os dados do cristianismo - como também
aquelas que se nutrem destes últimos -, deixem de se comportar como se fossem
as representantes oficiais da filosofia, e reconheçam que são nada mais que
etapas, que são períodos, ou seja, estados da filosofia. Eis o que o filosofo
francês nos diz a este respeito: “É necessário distinguir a natureza da
filosofia, ou aquilo que ela é em si mesma, e o estado onde de fato ela se
encontra, historicamente, no sujeito humano, e que se relaciona às condições de
existência e de exercício numa ordem concreta. certamente esta distinção
pressupõe que a filosofia possua uma natureza, que ela seja capaz de se
apresentar como uma realidade concreta”. (Maritain, 1933, p. 27)
O instrumento que pode estabelecer um
equilíbrio salutar entre a situação concreta da filosofia e a sua natureza é a
própria capacidade de abstração que é peculiar ao ser humano.
É com esta capacidade de abstração que
imergimos num determinado contexto histórico que caracteriza um período
filosófico, mas é ainda com esta mesma que emergimos evitando os perigos de um
possível abstracionismo, e descobrimos que a filosofia certamente realiza
alianças com uma história, com situações particulares, com tudo aquilo que é
próprio de um tempo, mas descobrimos ainda que a filosofia jamais se isenta de
ultrapassar, de redimensionar, de entrar em diálogo com o novo e de enfrentar equações
que reúnem tanto o sujeito questionador quanto as interrogações que são
próprias do seu tempo.
Desta maneira, para descobrir aquilo que
a nossa primeira pergunta-guia pode nos oferecer, é necessário que
estabeleçamos uma ideia abrangente e concreta da reflexão filosófica, ou seja,
precisamos fazer com que esta mesma não se sinta satisfeita diante de
resultados parciais que não contemplam a dimensão sobrenatural da pessoa
humana.
Uma reflexão filosófica que possua este
perfil nos ajuda a questionar não apenas as reflexões que não exprimem o seu
compromisso com a busca da Verdade que caracteriza a nossa existência, mas
também pode abrir os nossos olhos quanto ao teor dos elementos presentes na sua
constituição.
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