Nestes
dias, estava lendo algo sobre as relações entre filosofia, ciência e religião.
A perspectiva interpretativa aberta por Bertrand Russel desperta bastante
interessante, pois retoma as concepções usuais atribuídas aos termos.
Comumente, a ciência recebe o título honorífico de detentora das realidades
comprovadas. A ciência moderna exerceu aquele papel que durante o medievo era
prerrogativa exclusiva da religião.
Na
modernidade filosófica, a religião começa a falar baixinho e se amedronta
diante do vozerio da ciência. A religião se desinteressa sempre mais das
repercussões sociopolíticas conhecidas nos séculos medievais. É assim que a religião
moderna se torna assunto privado, vivenciado entre as paredes das igrejas ou
dos lares com estas relacionados.
A
religião moderna se torna intimista e vítima do solipsismo, enxerga apenas a si
mesma. Lugar de sentimentos repletos de oscilações e imprevisibilidades, a
religião moderna é destronada pela razão e perde o seu papel de prestigiosa
locutora de certezas.
Entre
a hegemonia das certezas proferidas pela ciência moderna e as oscilações
sentimentais da religião, Russel identifica um espaço precioso e perigoso,
dedicado ao trabalho reflexivo. A fértil expressão utilizada por Russel
identifica este espaço como “Terra de Ninguém”, como um lugar até então privo
de demarcações e populações. Onde está a filosofia? Nas salas das universidades
europeias? Nas grandes e renomadas universidades brasileiras? Nas bibliotecas
frequentadas pelos estudiosos? Entre as barbas dos professores catedráticos?
Russel
sopra sobre um perfil da filosofia que a mantém forasteira, livre dos pesos
impostos pelo politicamente correto. A filosofia está sempre pronta para
partir, gentilmente agradece aos convites que pretendem hospedá-la nos
convencionalismos e modismos culturais dos nossos dias.
Entre
as pretenciosas certezas da ciência e os confusos discursos da religião, a filosofia
apresenta-se qual abrigo salutar de tantos conflitos. Dentre estes, caberia
ressaltar aquela anemia cultural que tanto tem nos caracterizado. Priva de
forças culturais, a sociedade contemporânea nas suas várias instâncias,
tornou-se hábil na arte de importar e perdeu a sensibilidade imprescindível
para a arte de criar.
O
vasto edifício cultural, construído precedentemente parece não ter nos
enriquecido, mas sim nos enrijecido, nos paralisado. A herança cultural que
recebemos teria nos reduzido a simples reprodutores improdutivos? Desde quando
se começou a banir dos vocabulários culturais as noções que remetem ao
compromisso? Incapaz de definir-se, a cultura hodierna que chama a si mesma de
pós-moderna, cancelou os compromissos familiares, aqueles político-partidários
e até mesmo os compromissos religiosos.
Hoje,
diante do multiplicar-se de religiões, vê-se a desintegração do compromisso no
âmbito da religião. Não importa o discurso em si, mas sim o que provoca em mim.
É proibido mudar-se e, portanto quando o discurso não mais responde aos
apetites, providencia-se outro melhor, mais confortável aos ouvidos.
Não
sei com quais critérios, mas a sociedade contemporânea tem-se mostrado ágil na
fabricação de novas religiões e novos deuses, todos à luz da própria imagem e
semelhança.
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