segunda-feira, 18 de maio de 2015

Religião, Água e Indignação.



No texto sagrado, existem inúmeros relatos marcados por esta intrigante presença da água. Se olhássemos os dois primeiros versículos do primeiro capítulo do Gênesis, veríamos que o autor sagrado faz compreender que a água precede a própria obra da criação. Vejamos o texto: “No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia, as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas” (cf. Gênesis, 1,1-2).
Recordamos a cena do dilúvio, na qual Deus sob o peso da violência humana deseja lavar a terra de todos os seus males. A mesma água que destrói, salva Noé, o homem justo e anuncia o início de uma nova criação. É este o pedido de Deus a Noé: “Eu vou mandar o dilúvio sobre a terra, para exterminar todo ser vivo que respira debaixo do céu: tudo o que há na terra vai perecer. Mas com você eu vou estabelecer a minha aliança, e você entrará na arca com sua mulher, seus filhos e as mulheres de seus filhos” (cf. Gênesis 6,17-19).
Com as águas do mar, os hebreus escravizados foram libertos das garras dos egípcios escravizadores, gananciosos e distantes do Deus que viu seu Filho nascer na extrema pobreza de um curral, como tantos outros filhos de mães que ainda hoje ouvem o barulho das portas fechadas que retardam e por vezes impedem a extraordinária renovação da vida. Nas Escrituras, Deus pede a Moisés, o homem salvo das águas: “[...] ‘Estenda a mão sobre o mar, e as águas se voltarão contra os egípcios, seus carros e cavaleiros’. [...] As águas voltaram, cobrindo os carros e os cavaleiros de todo o exército do Faraó, que os haviam seguido no mar: nem um só deles escapou” (cf. Êxodo 14, 26.28).
Durante estes dias de conquistas científicas e tecnológicas, ouvimos em diversos lugares, nas ruas quando paramos diante dos semáforos, nos restaurantes que tiveram suas atividades ameaçadas, nos templos religiosos, nas escolas públicas que sofrerão mais uma greve, graças ao governo Jackson, que nega o piso nacional aos professores e nas escolas de ensino superior, ressoa a seguinte pergunta: O que seria de nós sem a água? Como é possível que a sociedade pós-moderna, das cirurgias e transplantes mais sofisticados possíveis, aprimorando os índices de qualidade de vida, questione-se sobre algo tão simples?
No último sábado, dia 09 deste mês, vimos que de fato não só o cavalo de Troia, mas os de Laranjeiras também reservam surpresas. Com aqueles cavalos sobre a ponte, acentuou-se o descaso que domina o cenário da coisa pública, reservando-nos serviços de menor qualidade e quantidade. Estamos ouvindo os sons dos aplausos ao governo do Estado, Deso, Petrobrás e outras frentes que se somaram para que 70% da população aracajuana tivesse normalizado o abastecimento de água nos lares. Será que merecem? Talvez sim, desde que não se troque remediação por prevenção.
Será que Tales, filósofo pré-socrático e naturalista, tinha razão? A água é o princípio de todas as coisas?

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