sábado, 6 de dezembro de 2014

A filosofia tem um nome?



Quando estamos diante de uma pessoa brilhante que se destaca pela eficácia da sua reflexão, traduzimos este momento com a seguinte afirmação: “Esta pessoa está acima da média”. É assim com a literatura e com a poesia que classificam autores privilegiando uns em detrimento de outros e mesmo a pintura seleciona quadros valiosíssimos que dificilmente decorarão as paredes das casas de pobres mortais.
Os filósofos também estão inseridos nesta dinâmica. Existem autores que não passam despercebidos pelos caminhos do saber. São autores que incomodam, fazem barulho e acordam a filosofia quando aqui e acolá prefere cochilar e desiste da tarefa que consiste no pensar.
Costumo dizer que tais autores trazem um nome para a filosofia. É por isso que a filosofia platônica recebe o nome de idealismo, priorizando o ideal em relação ao real. A filosofia aristotélica é conhecida com o nome de realismo, pois resgata o valor do real como ponto de partida da indagação filosófica. Durante os séculos medievais, a filosofia e o cristianismo se aliaram e originaram a filosofia cristã.
O valioso trabalho começado por Descartes durante o séc. XVI foi determinante para os passos da filosofia. O projeto do filósofo francês maximiza a potencialidade da razão atribuindo-lhe a responsabilidade de ser o pai da modernidade filosófica chamada de racionalista. Se a história presenciou evoluções e involuções culturais durante e após o século das luzes, este resultado deriva dos esforços de Descartes. O iluminismo do séc. XVIII é filho legítimo do racionalismo que identificou a filosofia com a morte da metafísica, perdendo interesse pela busca de algo válido por si mesmo, cancelando a noção de imutável, absoluto e imaterial e erguendo as bandeiras do mutável, relativo e material.
No séc. XIX a filosofia teve um encontro importante com Karl Marx e ficou conhecida como materialismo. Quando Marx iniciou a sua reflexão o modo hegemônico de filosofar se identificava com o sistema hegeliano que em sede moderna desenvolve alguns aspectos da perspectiva platônica.
Se verificássemos a obra “Fenomenologia do espírito”, veríamos o interesse de Hegel pelas noções de ideia, eu, consciência de si, espírito absoluto e outras sempre marcadas por um forte idealismo. Como Aristóteles refuta Platão, Marx rejeita Hegel. As preocupações da filosofia marxista ou do materialismo filosófico são diferentes. Talvez com Marx pela primeira vez, vimos uma filosofia que visa transformar as relações que pesam sobre os trabalhadores que nas Barretopolis aceitam livremente que seus salários sejam parcelados em prol do bom funcionamento do Estado.
Em diferentes épocas, diante de variadas circunstâncias a filosofia recebeu muitos outros nomes que aqui não citaremos. Grandes e urgentes necessidades exigiram que a filosofia se pronunciasse, expondo a sua posição e esclarecendo situações obscuras. Como o gado é marcado para ser reconhecido e tratado a filosofia recebeu as marcas de um tempo que permitem reconhecê-la emergindo do chão de cada história. O que muda na filosofia é apenas o seu rosto. A sua identidade permanece inalterada. Através de comportamentos diferentes a filosofia não abre mão do seu real interesse: auxiliar na tarefa de construção do conhecimento.

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