Em
nome do filho de Deus se promoveu a morte do excluído e se socorreu apenas o
incluído. Talvez este seja um dos obstáculos que deve ser superado quando se
quer falar sobre Cristo e nestes dias tem sido um exercício difícil.
Materialmente, a igreja católica perdeu uma hegemonia secular na descrição da
identidade e da missão de Cristo e até as chamadas igrejas evangélicas
fragilizam este papel diante da proliferação de igrejas que são inseridas neste
mesmo conjunto, pois diante dos seus discursos constata-se uma distância
abissal entre o Cristo apregoado e aquele presente no Evangelho. As questões
político-partidárias sobrepõem àquelas espirituais anunciadas por Cristo na sua
missão.
A
pergunta posta por Kant ressoa nas indagações hodiernas e seria assim reconstruída:
O que fizemos? O que estamos fazendo? Desde o chamado primado de Pedro que
afunda raízes na escolha feita por Cristo tornando este apóstolo a pedra sobre
a qual edifica a sua igreja (cf. Mateus 16,18), vê-se um desejo de
circunscrever a ação de Cristo nas páginas de uma história da exclusão. Parece
que se reapresenta a tentação genesíaca que desvela um desejo presente no
coração humano: ser deus. O ser humano procura ser um deus melhor, mais
aprimorado e em sintonia com os tempos atuais, mas se não for possível suprimir
este Deus antigo é bom que seja guiado pelo deus humano.
O
Deus descrito por Cristo na sua missão não é alguém de outro mundo que quer ver
de perto como é construído o convívio humano, mas sim o Deus que se faz humano
e, portanto aceita os desafios desta humanidade. O objetivo não é impedir, mas
sim apontar uma rota de concretização deste desejo presente no coração humano.
O Deus trazido por Cristo quer mesmo ser indagado, quer ser conhecido e por
isso abre as portas da própria vida para ser inteiramente acessível, sem
controle de entrada, de cor, de sexo e credo. Estes derivam das convenções
humanas que são falhas quando degeneram em órgãos de exclusão. O controle
exigido por Deus reside no serviço que gera uma concreta inclusão.
A
religião contemporânea na variedade dos seus credos e expressões precisa encontrar
uma identidade que ofereça respostas que não foram dadas pela filosofia, pela
política e demais ramos do saber. Talvez se dedicou muito tempo na construção
de igrejas suntuosas, refrigeradas e dotadas de toda comodidade e por conta
disso se esqueceu que a mensagem trazida por Cristo visa incomodar. É preciso
gritar para que a religião não se torne inerte e saiba colocar-se ao lado
daquele que serve. O Cristo do Evangelho não se serviu da religião, mas pelo
contrário, foi por esta aniquilado. Ao lado das ideologias exclusivistas, a
religião repetirá as cenas conhecidas de destruição, mas pondo-se ao serviço do
ferido, do faminto e de qualquer excluído, tornar-se-á sinal de fraternidade e
de inclusão.
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