sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Jacques Maritain: Por uma democracia humanizadora.

Na sua obra Principes d’une politique humaniste escrita em 1945, Maritain reflete sobre o complexo fenômeno da liberdade humana, evidenciando aquelas capacidades de iniciativa e aqueles anseios de renovamento, que em meio as mais variadas situações de conflito, nos encorajam a realizar aquela grande façanha que consiste em conquistar a si mesmo.
Uma liberdade entendida enquanto conquista de si mesmo, é a base a partir da qual procuramos refletir sobre a necessidade de uma renovação ético-social, que favoreça um desarmamento daquelas tendências permissivistas que compreendem a democracia como um estado de ausência total de princípios fundamentais como a autoridade e o poder.
Comumente nos deparamos com ideias que promovem uma concepção empobrecedora da liberdade humana, na qual esta é entendida apenas como uma espécie de direito ilimitado, que não conhece deveres e nem sequer possui a mínima intenção de instaurar um diálogo frutífero com estes últimos.
Dotadas de uma rápida mutabilidade, estas ideias causam a deterioração ético-social que presenciamos em nossos dias. Os grandes resultados que estas estabelecem, não são outros senão aqueles que consistem num cansaço coletivo, num desânimo social e descrédito daquelas instituições governamentais que possuem o dever de elaborar políticas de promoção e não de apodrecimento humano.
Observando o quadro clínico das nossas políticas democráticas, descobrimos que muitas vezes assumindo concepções deturpadas, os princípios fundamentais de autoridade e de poder, perdem as suas próprias forças e não instauram um crescimento humanizador que viabilize um verdadeiro acesso aos elementos que constituem o bem comum social.
Estas precisam assumir urgentemente, uma concepção de autoridade que exprima o direito de ser escutado, de ser obedecido e de guiar os cidadãos rumo a um crescente desenvolvimento ético-social, e uma concepção de poder entendido enquanto força que se necessário, obriga a realizar ações que visam tal desenvolvimento.
O principal sintoma que deve nos colocar imediatamente em estado de alerta, é o momento no qual estes mesmos princípios fundamentais começam a agir isoladamente, perdendo aquela unicidade que é garantia do bom êxito das suas manifestações.
Certamente as políticas democráticas hodiernas conseguiram apenas delimitar a autoridade numa determinada forma de poder, mas esqueceram de que este último se torna realmente eficaz apenas quando se apresenta como expressão de uma autoridade moral que acompanha e enriquece a prática gerenciativa da coisa pública. Jacques Maritain nos diz que:

Toda autoridade precisa ser completada numa determinada forma de poder, sem o qual esta mesma pode perder a sua eficácia diante da sociedade humana. Todo poder que não exprime uma autoridade é um pseudo poder. Comumente a expressão autoridade implica o poder, como também a expressão poder implica a autoridade. Enquanto poder, a autoridade se concretiza materialmente; e enquanto autoridade, o poder adquire um nível moral e jurídico. Separar o poder e a autoridade, é separar a força e a justiça. (Maritain, Jacques, Principes d’une politique humaniste, p. 211.).

Nenhum comentário:

Postar um comentário