Na sua obra Principes d’une politique humaniste escrita em 1945, Maritain
reflete sobre o complexo fenômeno da liberdade humana, evidenciando aquelas
capacidades de iniciativa e aqueles anseios de renovamento, que em meio as mais
variadas situações de conflito, nos encorajam a realizar aquela grande façanha
que consiste em conquistar a si mesmo.
Uma liberdade entendida enquanto conquista de
si mesmo, é a base a partir da qual procuramos refletir sobre a necessidade de
uma renovação ético-social, que favoreça um desarmamento daquelas tendências permissivistas que compreendem a democracia como um estado de
ausência total de princípios fundamentais como a autoridade e o poder.
Comumente nos deparamos com ideias que
promovem uma concepção empobrecedora da liberdade humana, na qual esta é
entendida apenas como uma espécie de direito ilimitado, que não conhece deveres
e nem sequer possui a mínima intenção de instaurar um diálogo frutífero com
estes últimos.
Dotadas de uma rápida mutabilidade, estas
ideias causam a deterioração ético-social que presenciamos em nossos dias. Os
grandes resultados que estas estabelecem, não são outros senão aqueles que
consistem num cansaço coletivo, num desânimo social e descrédito daquelas
instituições governamentais que possuem o dever de elaborar políticas de
promoção e não de apodrecimento humano.
Observando o quadro clínico das nossas
políticas democráticas, descobrimos que muitas vezes assumindo concepções
deturpadas, os princípios fundamentais de autoridade e de poder, perdem as suas
próprias forças e não instauram um crescimento humanizador que viabilize um
verdadeiro acesso aos elementos que constituem o bem comum social.
Estas precisam assumir urgentemente, uma
concepção de autoridade que exprima o direito de ser escutado, de ser obedecido
e de guiar os cidadãos rumo a um crescente desenvolvimento ético-social, e uma
concepção de poder entendido enquanto força que se necessário, obriga a
realizar ações que visam tal desenvolvimento.
O principal sintoma que deve nos colocar
imediatamente em estado de alerta, é o momento no qual estes mesmos princípios
fundamentais começam a agir isoladamente, perdendo aquela unicidade que é
garantia do bom êxito das suas manifestações.
Certamente as políticas democráticas
hodiernas conseguiram apenas delimitar a autoridade numa determinada forma de
poder, mas esqueceram de que este último se torna realmente eficaz apenas
quando se apresenta como expressão de uma autoridade moral que acompanha e
enriquece a prática gerenciativa da coisa pública. Jacques Maritain nos diz
que:
Toda autoridade precisa ser completada
numa determinada forma de poder, sem o qual esta mesma pode perder a sua
eficácia diante da sociedade humana. Todo poder que não exprime uma autoridade
é um pseudo poder. Comumente a expressão autoridade implica o poder, como
também a expressão poder implica a autoridade. Enquanto poder, a autoridade se
concretiza materialmente; e enquanto autoridade, o poder adquire um nível moral
e jurídico. Separar o poder e a autoridade, é separar a força e a justiça. (Maritain,
Jacques, Principes d’une politique
humaniste, p. 211.).
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