Após o declínio da cristandade medieval
com suas catedrais suntuosas e extasiantes cantos gregorianos, o que esperamos
do cristianismo contemporâneo? Durante os séculos medievais, cristianismo e
catolicismo eram expressões absolutamente inseparáveis. A hegemonia da Igreja
Católica tocava todos os segmentos da sociedade, como a educação, a economia e
a política. Esta hegemonia contida nos livros de história e transmitida por
tantos ilustres professores foi algo exclusivamente nocivo? Trata-se de uma
pergunta que pode esperar, pois nos distanciaria dos limites que precisamos
respeitar neste breve texto, mas acredito que desde já se consegue traduzir o
próprio movimento filosófico que reside na “provocação”.
Sem delongas etimológicas, vemos no
termo “provocação” uma postura que se coloca na “defesa de um chamado” e
através de vários nomes mais ou menos conhecidos pela cultura ou por escolas de
pensamentos mais ou menos aceitos, a proposta filosófica deve chamar, pedir
atenção voltada aos mecanismos internos que formam expressões quais: “é comum”,
“sempre foi assim”, “não precisa mexer nisso” e outras que originam os mais
arraigados conformismos.
O cristianismo é a religião da
conformidade? Trata-se de uma religião que transforma o indivíduo numa das
tantas ovelhas do redil? O cristianismo é a religião que destrói o belo sonho
de autonomia acalentado pela cultura filosófica moderna? Se recordássemos
alguns nomes da modernidade filosófica, quais Maquiavel (+1527), Feuerbach
(+1872) e Nietzsche (+1900), certamente os veríamos conversando ao redor duma
mesa sobre os males do cristianismo, sobre a necessidade de libertar a cultura
ocidental deste grande mal.
Será que o cristianismo não poderia
deixar de enxergar o indivíduo como ovelha amedrontada e incapaz de traçar
rotas para si? Como relacionar o fenômeno humano desta nova modernidade, com os
postulados do cristianismo que nos quer sempre guiados por um pastor? A
modernidade levanta a bandeira do indivíduo capaz de conduzir-se por si mesmo,
sem quaisquer intervenções.
Ouvimos com Kant (+1804), que o
indivíduo da modernidade atingiu a esperada maioridade do pensar. Sem querer
ser conduzida pelo pastor, a ovelha da modernidade não quer ser tosquiada e ver
a própria pele servindo como matéria prima para produtos que não a
beneficiarão.
Tendo muito que dizer ao pastor, a
ovelha da modernidade desenvolveu técnicas de mimetização para ludibriar e
afugentar os lobos vorazes que riscam de continuar famintos. Além de possuir o
seu próprio kit de primeiros socorros, a ovelha da modernidade apresenta ao
pastor um extenso elenco de exigências que devem ser cuidadosamente atendidas,
sob a pena de destituí-lo elegendo novo pastor capaz de atendê-las como desejam
ser atendidas.
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