segunda-feira, 1 de junho de 2015

Religião e Modernidade: a revolta das ovelhas.



Após o declínio da cristandade medieval com suas catedrais suntuosas e extasiantes cantos gregorianos, o que esperamos do cristianismo contemporâneo? Durante os séculos medievais, cristianismo e catolicismo eram expressões absolutamente inseparáveis. A hegemonia da Igreja Católica tocava todos os segmentos da sociedade, como a educação, a economia e a política. Esta hegemonia contida nos livros de história e transmitida por tantos ilustres professores foi algo exclusivamente nocivo? Trata-se de uma pergunta que pode esperar, pois nos distanciaria dos limites que precisamos respeitar neste breve texto, mas acredito que desde já se consegue traduzir o próprio movimento filosófico que reside na “provocação”.
Sem delongas etimológicas, vemos no termo “provocação” uma postura que se coloca na “defesa de um chamado” e através de vários nomes mais ou menos conhecidos pela cultura ou por escolas de pensamentos mais ou menos aceitos, a proposta filosófica deve chamar, pedir atenção voltada aos mecanismos internos que formam expressões quais: “é comum”, “sempre foi assim”, “não precisa mexer nisso” e outras que originam os mais arraigados conformismos.
O cristianismo é a religião da conformidade? Trata-se de uma religião que transforma o indivíduo numa das tantas ovelhas do redil? O cristianismo é a religião que destrói o belo sonho de autonomia acalentado pela cultura filosófica moderna? Se recordássemos alguns nomes da modernidade filosófica, quais Maquiavel (+1527), Feuerbach (+1872) e Nietzsche (+1900), certamente os veríamos conversando ao redor duma mesa sobre os males do cristianismo, sobre a necessidade de libertar a cultura ocidental deste grande mal.
Será que o cristianismo não poderia deixar de enxergar o indivíduo como ovelha amedrontada e incapaz de traçar rotas para si? Como relacionar o fenômeno humano desta nova modernidade, com os postulados do cristianismo que nos quer sempre guiados por um pastor? A modernidade levanta a bandeira do indivíduo capaz de conduzir-se por si mesmo, sem quaisquer intervenções.
Ouvimos com Kant (+1804), que o indivíduo da modernidade atingiu a esperada maioridade do pensar. Sem querer ser conduzida pelo pastor, a ovelha da modernidade não quer ser tosquiada e ver a própria pele servindo como matéria prima para produtos que não a beneficiarão.
Tendo muito que dizer ao pastor, a ovelha da modernidade desenvolveu técnicas de mimetização para ludibriar e afugentar os lobos vorazes que riscam de continuar famintos. Além de possuir o seu próprio kit de primeiros socorros, a ovelha da modernidade apresenta ao pastor um extenso elenco de exigências que devem ser cuidadosamente atendidas, sob a pena de destituí-lo elegendo novo pastor capaz de atendê-las como desejam ser atendidas.

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