Nas
conversações tecidas no cotidiano, nos deparamos com a expressão “delegar a
terceiros”. Em sede filosófica, trata-se de algo perigoso, pois afeta aquele
dado racional que nos torna capazes de caminhar com as próprias pernas, como
ouvimos aqui e acolá. Esta expressão exala um protagonismo com o qual nos
conduzimos e não aceitamos acriticamente que nos conduzam por direções
contrárias a nós mesmos.
Para
a filosofia “delegar a terceiros” é um projeto pernicioso que usurpa nossa própria
identidade. É um plano agressivo que rotula, atribui um preço e nos torna
mercadorias humanas vendidas, retomando o mesmo ciclo nefasto escravocrata, que
tocou as páginas deste gigantesco Brasil.
A
filosofia será sempre contrária aos processos que terceirizam a pessoa humana,
a tudo aquilo que implica abdicar de construir-se, cultivar-se e pensar com
autonomia. Numa visão filosófica, o ato de terceirizar conduz aos dramas da
desumanização que confunde a pessoa humana com objetos isentos de valor.
Pensar
a terceirização no âmbito específico do trabalho é colocar-se diante de uma
relação que privilegia o empregador em detrimento do empregado. Mesmo tocando
apenas as chamadas atividades-meio, a terceirização serve para aliviar os
gastos de uma empresa com os servidores, sempre mais inseguros,
desestabilizados e ainda impedidos de exigir melhorias tanto nas condições de
trabalho, quanto nos quadros salariais.
A
terceirização é uma espécie de escravidão branca, uma manobra contemporânea
para comprar uma força-trabalho mais barata, mesmo exigindo mais do
trabalhador. É como se estivéssemos sendo emprestados e assistíssemos as trocas
de favores entre os senhores que decidem sobre nós, sobre nossos horários e
locais de trabalho. E deste modo, a terceirização faz com que o trabalhador
mesmo estando no trabalho, jamais o sinta como algo próprio, que lhe pertence
em primeira mão.
Há
uma perniciosa inversão na terceirização, na qual o trabalho deixa de pertencer
ao trabalhador, que no sequestro das relações indiretas, pertence ao trabalho
que agora o torna refém dos interesses dos senhores empresários.
Nestes
dias, ouvimos bastante acerca do projeto de lei 4330/2004 que regulamenta a
terceirização neste querido Brasil. Dentre as suas involuções, está o aumento
da escravidão branca, ou seja, além de tocar as atividades-meio, a
terceirização contaminará as demais atividades de uma determinada empresa. É
como se os senhores empresários reunidos, tivessem sentido a necessidade de
novos escravos não apenas na limpeza e na segurança, mas também em outros
setores das empresas que não mais suportam o peso do trabalhador.
O
Brasil está agradecido, sobretudo aos deputados federais que votaram nesta bela
dieta que livrará as empresas deste colesterol ruim que são os trabalhadores
brasileiros. Mas acredito que não há com que se preocupar, pois “se o Senado é
por nós, quem será contra nós”.
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