Recordando
o cinquentenário de conclusão do Concílio Vaticano II, encontramos ocasião
propícia para apresentar questões pertinentes acerca do documento conciliar Dei Verbum. Movido pelo Espírito de
Cristo, o Concílio retomou aquela pedagogia divina, sintetizada por Luigi
Bogliolo com a bela expressão metodologia
da encarnação. Nas páginas da Escritura, vemos que o “Verbo se fez carne” e toda a Revelação divina visa à encarnação do
Verbo que nos resgata e nos humaniza.
Nutrida
pelo Verbo eterno, a Igreja é testemunha da Revelação e por isso perpetua este
movimento divino que tende a encarnar-se isto é, tende a revelar-se a um povo
real, que vive num dado momento histórico, cercado por virtudes e vícios,
envolvido com as conquistas e os problemas do tempo presente. A Revelação
divina não é uma expressão exegética, não é simplesmente descritiva. No seu
Filho, Deus assume os traços de um povo, para transformá-los à luz dos critérios
da vida em abundância.
Maximizando
a expressão que dinamiza as construções sociopolíticas, afirmamos que a
Revelação se dá numa sociedade, na ampla e variada sociedade dos seres humanos.
É através da pregação do Verbo encarnado, que ouvimos a vontade do Pai. Ele
espera que não sejamos apenas sócios desregrados, mas nos redescubramos irmãos
comprometidos uns com os outros. Na Revelação divina, há um dinamismo sócio -
transformador sem o qual a Igreja degeneraria num imenso museu internacional,
repleto de peças preciosas, mas incapazes de incidir sobre o hoje, tão sedento
de redenção.
A
Campanha da Fraternidade deste ano -
Igreja e Sociedade - faz-nos recordar o quanto é necessário que pelo
testemunho dos cristãos, a luz da Revelação dissipe as densas trevas da
corrupção que afeta nosso Brasil, que violenta esta Terra de Santa Cruz. A
Revelação divina implica uma ética da fraternidade e da inclusão (Dei Verbum, 2).
No
livro do Gênesis, o autor sagrado fala acerca da relação entre Deus e os nossos
primeiros pais, descreve uma relação de confiança e amizade construídas num
diálogo amoroso e de entrega. Seduzida pelo mistério da iniquidade, a humanidade
aqui representada, desconfia de Deus e o enxerga como alguém que usurpa a
liberdade e não como aquele que garante seu pleno desenvolvimento. A humanidade
escolhe outros amigos que são os ídolos que tramam contra Deus para torná-lo
sempre estranho e distanciá-lo do convívio humano.
A
Revelação divina suscita uma revelação humana. Faz com que nos movamos num
ambiente que supera aquele traçado por Hobbes. Podemos ser mais que lobos uns
para os outros. Sentadas ao redor do ser humano, as ciências devem traçar
planos, estabelecer parcerias, sobretudo entre política e educação. Neste
período de vacância do Ministério da Educação, acompanhemos a presidenta e
torçamos para que encontre alguém que pense a educação além das mercadologias
atuais. Deste modo, a sociedade brasileira verá que ordem e progresso genuínos,
derivam de uma inseparável circularidade entre educação política e políticas
educacionais.
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