Os sofistas não compartilham os interesses filosóficos dos
clássicos e colocam sobre os ombros da filosofia objetivos bem mais imediatos.
A busca da verdade, cara aos três grandes filósofos, cede lugar ao sucesso das
posições expostas na àgora, lugar das
discussões intelectuais e políticas na Grécia Antiga. Os sofistas abrem mão de
pretensões metafisicas e se aliam aquilo que é meramente descritivo, mas que
serve para ludibriar, para mascarar de verdade aquilo que é enganoso e tende
aos fins particulares em detrimento das mediações necessárias para os fins
coletivos.
Os sofistas rompem com a busca por algo de absoluto como até
então era realizado pela filosofia. Não há nada de absoluto que possamos tocar
e experimentar. Há uma ênfase do fato, do temporal sobre o atemporal, do fluxo
sobre o fixo. Os estudiosos da filosofia clássica atribuem aos sofistas o
início de um processo que resultou no velho e conhecido relativismo.
Coube a Protágoras, formular o princípio do homo mensura, no qual o ser humano é apresentado como medida de
todas as coisas. Para os sofistas, a tarefa do ser humano consiste em medir as
realidades circunstantes e não ser medido por elas. Na antropologia sofista, o
ser humano é criador de si mesmo, com seus parâmetros próprios. Deste modo,
percebe-se que a historicidade humana sempre foi líquida, muito antes da
formulação de Bauman. Nos sofistas, ressoa o princípio de Heráclito segundo o qual
tudo flui isto é, tudo muda, se
desfaz e se refaz: costumes morais, princípios éticos, deuses do momento,
formas de governo e concepções de justiça. Nestas contínuas sucessões permanece
o ser humano preso as suas necessidades e disposto a tudo para respondê-las.
A perspectiva de Górgias engloba aquilo que se chama de
gnosiologia ou teoria do conhecimento. Enquanto Sócrates levanta a bandeira do
inatismo gnosiológico, considerando que somos dotados de conhecimento e
apresentando-se qual parteiro pronto para auxiliar no doloroso e necessário
parto de ideias, Górgias defende a impossibilidade do conhecimento, pois afinal
não há nada para conhecer e mesmo que houvesse não poderíamos conhecê-lo, se
pudéssemos conhecer não poderíamos transmitir, se pudéssemos transmitir não
seria compreendido.
Quanto emerge da trajetória dos sofistas, acentua um cansaço da
filosofia que numa linguagem kantiana, se aproxima do fenômeno e se distancia
do noumeno. Relativização do
absoluto, absolutização do relativo marcam este percurso que não é privo de
bons contributos. Mesmo distantes dos ideais que motivaram a impostação
filosófica de Sócrates, Platão e Aristóteles, deve-se agradecer aos sofistas: a
distribuição de conhecimentos fora dos domínios da Helade, o aprimoramento da arte
retórica e a impostação mais próxima aos atuais centros de educação.
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