domingo, 15 de março de 2015

Os Sofistas e os Filósofos Clássicos



Os sofistas não compartilham os interesses filosóficos dos clássicos e colocam sobre os ombros da filosofia objetivos bem mais imediatos. A busca da verdade, cara aos três grandes filósofos, cede lugar ao sucesso das posições expostas na àgora, lugar das discussões intelectuais e políticas na Grécia Antiga. Os sofistas abrem mão de pretensões metafisicas e se aliam aquilo que é meramente descritivo, mas que serve para ludibriar, para mascarar de verdade aquilo que é enganoso e tende aos fins particulares em detrimento das mediações necessárias para os fins coletivos.
Os sofistas rompem com a busca por algo de absoluto como até então era realizado pela filosofia. Não há nada de absoluto que possamos tocar e experimentar. Há uma ênfase do fato, do temporal sobre o atemporal, do fluxo sobre o fixo. Os estudiosos da filosofia clássica atribuem aos sofistas o início de um processo que resultou no velho e conhecido relativismo.
Coube a Protágoras, formular o princípio do homo mensura, no qual o ser humano é apresentado como medida de todas as coisas. Para os sofistas, a tarefa do ser humano consiste em medir as realidades circunstantes e não ser medido por elas. Na antropologia sofista, o ser humano é criador de si mesmo, com seus parâmetros próprios. Deste modo, percebe-se que a historicidade humana sempre foi líquida, muito antes da formulação de Bauman. Nos sofistas, ressoa o princípio de Heráclito segundo o qual tudo flui isto é, tudo muda, se desfaz e se refaz: costumes morais, princípios éticos, deuses do momento, formas de governo e concepções de justiça. Nestas contínuas sucessões permanece o ser humano preso as suas necessidades e disposto a tudo para respondê-las.
A perspectiva de Górgias engloba aquilo que se chama de gnosiologia ou teoria do conhecimento. Enquanto Sócrates levanta a bandeira do inatismo gnosiológico, considerando que somos dotados de conhecimento e apresentando-se qual parteiro pronto para auxiliar no doloroso e necessário parto de ideias, Górgias defende a impossibilidade do conhecimento, pois afinal não há nada para conhecer e mesmo que houvesse não poderíamos conhecê-lo, se pudéssemos conhecer não poderíamos transmitir, se pudéssemos transmitir não seria compreendido.
Quanto emerge da trajetória dos sofistas, acentua um cansaço da filosofia que numa linguagem kantiana, se aproxima do fenômeno e se distancia do noumeno. Relativização do absoluto, absolutização do relativo marcam este percurso que não é privo de bons contributos. Mesmo distantes dos ideais que motivaram a impostação filosófica de Sócrates, Platão e Aristóteles, deve-se agradecer aos sofistas: a distribuição de conhecimentos fora dos domínios da Helade, o aprimoramento da arte retórica e a impostação mais próxima aos atuais centros de educação.

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