Dentre as poucas certezas deste
Brasil contemporâneo, uma é indiscutível: a violência contra as mulheres. Esta
é uma das marcas cravadas no DNA deste país que assistiu ao longo da sua
história, a morte de tantas mulheres índias e negras que sequer podemos imaginar
pois não eram registradas. Esta violência contra a mulher possui os mais
variados palcos, dos mais públicos aos mais privados. Pode ocorrer numa festa
por um decote considerado exagerado, ou ainda no aconchego do próprio lar. Pode
ser cometida por uma pessoa totalmente desconhecida, ou até mesmo pela pessoa
que se ama. Uma coisa é certa, não vivemos uma sensação de insegurança, mas sim
uma realidade que é de total insegurança para todos e sobretudo para as
mulheres, que são alvos prediletos da violência. Até mesmo as medidas de
proteção aplicadas pela justiça são incapazes de dissipar a marcha da violência
contra a mulher. As ordens judiciais não conseguem conter a fúria dos algozes
da mulher.
Elaine foi mais uma das vítimas
da violência cometida por aqueles que exalavam carinhos e proteção. Um jovem
conseguiu entrar em contato com Elaine através dos novos meios de comunicação
social. Após alguns meses de trocas de mensagens, este jovem consegue ganhar a
confiança de Elaine. Assim decidem marcar um encontro para elevar o nível da
relação que deixa de ser virtual para ser real. O jovem príncipe se torna o
agressor decidido em tirar a vida da mulher que até então galanteava e os
elogios se transformam em golpes e socos violentos que não apenas desfiguram o
rosto de uma bela mulher mas frustram suas expectativas, destroem suas
esperanças e a confiança nas parcerias humanas. Se houvesse maiores parcerias
entre as pessoas, independente das orientações sexuais, religiosas, culturais e
quaisquer outras, Elaine não teria transcorrido horas e horas sob os golpes de
um jovem estudante de direito que macula uma ciência sempre conhecida pela
defesa da vida. É preciso pensar que estes gritos ouvidos exigem de nós um
compromisso. É um outro ser humano em busca de socorro. É preciso meter a
colher, intervir e usar os meios para denunciar. Elaine não morreu mas as vidas
de tantas mulheres são diariamente ceifadas neste imenso Brasil da violência.
O fim de relacionamentos são
sempre mais motivos de grandes preocupações para os familiares que pensam como
farão para proteger filhas e irmãs, contra a vingança dos companheiros
inconformados com as decisões tomadas pelas mulheres. Além de terem suas
rotinas transtornadas, quando vão ao local de estudo, de trabalho e lazer, estas
mulheres vivem aterrorizadas, sob o fardo do medo de algo que a qualquer
momento pode acontecer, pois sabem que muito facilmente elas podem morrer.
O grito de Elaine precisa ser
ouvido, em defesa de tantas Elaines, de todas as mulheres que no Brasil e no
mundo precisam de proteção. Ainda não há o que comemorar pois as redes de
proteção em torno da mulher são frágeis, mas com o empenho de todos, da
educação, do direito, dos meios de comunicação social, é possível construir um
Brasil no qual a mulher seja respeitada na sua dignidade, em todas as suas
escolhas, e tenha as condições necessárias para o seu desenvolvimento integral.
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