A
característica central do movimento social reside numa ordenada mobilização em
prol do combate aos mecanismos que visam o ocultamento da identidade negra na
variedade das suas expressões religiosas e culturais, através de um itinerário
de conscientização que repudia tentativas de invisibilidade. Tal itinerário foi
enfatizado pela imprensa negra através de jornais que aqui circularam por
muitas décadas. Partindo de cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo
e tantas outras, este instrumento de comunicação divulgou os problemas
enfrentados pela população negra no Brasil que ao tornar-se República (1889),
privilegiou a mão de obra europeia capaz de impor ulteriormente a absorção da
própria identidade cultural e religiosa. A imprensa negra exerceu o papel de
denúncia contra os acessos negados ao negro que em muitas cidades da República
que engatinhava sequer era imaginável sua presença nos partidos, igrejas,
teatros e escolas.
É
possível identificar uma passagem no Movimento Social Negro que vai de uma
conscientização social rumo ao engajamento no cenário político, precisamente na
organização intitulada, Frente Negra Brasileira que ampliava a voz de milhares
de negros excluídos inclusive dos partidos políticos brasileiros. Uma das
reivindicações atendidas durante o governo Vargas consistia na entrada de
negros na guarda civil da cidade de São Paulo. Mesmo inspirando-se em propostas
políticas totalitárias, como aquelas de Hitler e Mussolini, a Frente Negra
Brasileira contou com mais de vinte mil associados reunidos em volta de ideais
conservadores como os conhecidos Deus, a pátria e a família, utilizados nas
manifestações que originaram uma das mais cruentas ditaduras que estão
trancadas nos porões do esquecimento.
Uma
apresentação dos movimentos que militaram a favor dos negros não dispensa a
presença da chamada União dos Homens de Cor, na segunda metade dos anos 40.
Mesmo utilizando uma expressão hoje chamada de politicamente correta, as metas
perseguidas por esta já visavam conceder ao negro, instrumentos que foram
negados quais poderio econômico, moradia digna, saúde e educação. Talvez aqui
resida a abordagem que mais se aproxima de quanto construído no Brasil
hodierno. Há uma superação de um plano assistencialista e a sucessiva
elaboração de estratégias que norteiem a construção da cidadania. Não de menor
importância, o Teatro Experimental do Negro, fundado na cidade do Rio de
Janeiro (1944) foi responsável por importantes elaborações que geraram espaços
de conscientização, quais: o jornal Quilombo, o Instituto Nacional do Negro, o
Museu do Negro e o I Congresso do Negro Brasileiro.
Cabe
ressaltar a presença de outro precioso instrumento de cidadania criado em 1978,
chamado Movimento Negro Unificado. Trata-se de um ano bastante relevante na
releitura da sociedade brasileira. É um momento propício para o fortalecimento
das classes operárias e no forte clamor das reivindicações, aquelas bradadas
pelos negros também encontraram uma parceria frutífera. De modo que a luta em
prol das efetivas condições de emancipação do negro passa também pela crítica a
um modelo capitalista desconhecedor de quaisquer valores que não se prostrem
diante do lucro desmedido e desumanizador. As pautas aqui exigidas são aquelas
que abraçam as parcerias na defesa do trabalhador negro, despreparado e
explorado, até a introdução do estudo da história da cultura africana nas
escolas do território brasileiro. Não se ama aquilo que não se conhece. E o
cancelamento do teor cultural africano no Brasil só alimenta a indiferença, a
ignorância disfarçada de intelectualidade, a transmissão da discriminação e do
ódio racial.
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