quinta-feira, 7 de julho de 2016

Os movimentos sociais negros em busca de cidadania.

A característica central do movimento social reside numa ordenada mobilização em prol do combate aos mecanismos que visam o ocultamento da identidade negra na variedade das suas expressões religiosas e culturais, através de um itinerário de conscientização que repudia tentativas de invisibilidade. Tal itinerário foi enfatizado pela imprensa negra através de jornais que aqui circularam por muitas décadas. Partindo de cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e tantas outras, este instrumento de comunicação divulgou os problemas enfrentados pela população negra no Brasil que ao tornar-se República (1889), privilegiou a mão de obra europeia capaz de impor ulteriormente a absorção da própria identidade cultural e religiosa. A imprensa negra exerceu o papel de denúncia contra os acessos negados ao negro que em muitas cidades da República que engatinhava sequer era imaginável sua presença nos partidos, igrejas, teatros e escolas.
É possível identificar uma passagem no Movimento Social Negro que vai de uma conscientização social rumo ao engajamento no cenário político, precisamente na organização intitulada, Frente Negra Brasileira que ampliava a voz de milhares de negros excluídos inclusive dos partidos políticos brasileiros. Uma das reivindicações atendidas durante o governo Vargas consistia na entrada de negros na guarda civil da cidade de São Paulo. Mesmo inspirando-se em propostas políticas totalitárias, como aquelas de Hitler e Mussolini, a Frente Negra Brasileira contou com mais de vinte mil associados reunidos em volta de ideais conservadores como os conhecidos Deus, a pátria e a família, utilizados nas manifestações que originaram uma das mais cruentas ditaduras que estão trancadas nos porões do esquecimento.
Uma apresentação dos movimentos que militaram a favor dos negros não dispensa a presença da chamada União dos Homens de Cor, na segunda metade dos anos 40. Mesmo utilizando uma expressão hoje chamada de politicamente correta, as metas perseguidas por esta já visavam conceder ao negro, instrumentos que foram negados quais poderio econômico, moradia digna, saúde e educação. Talvez aqui resida a abordagem que mais se aproxima de quanto construído no Brasil hodierno. Há uma superação de um plano assistencialista e a sucessiva elaboração de estratégias que norteiem a construção da cidadania. Não de menor importância, o Teatro Experimental do Negro, fundado na cidade do Rio de Janeiro (1944) foi responsável por importantes elaborações que geraram espaços de conscientização, quais: o jornal Quilombo, o Instituto Nacional do Negro, o Museu do Negro e o I Congresso do Negro Brasileiro.
Cabe ressaltar a presença de outro precioso instrumento de cidadania criado em 1978, chamado Movimento Negro Unificado. Trata-se de um ano bastante relevante na releitura da sociedade brasileira. É um momento propício para o fortalecimento das classes operárias e no forte clamor das reivindicações, aquelas bradadas pelos negros também encontraram uma parceria frutífera. De modo que a luta em prol das efetivas condições de emancipação do negro passa também pela crítica a um modelo capitalista desconhecedor de quaisquer valores que não se prostrem diante do lucro desmedido e desumanizador. As pautas aqui exigidas são aquelas que abraçam as parcerias na defesa do trabalhador negro, despreparado e explorado, até a introdução do estudo da história da cultura africana nas escolas do território brasileiro. Não se ama aquilo que não se conhece. E o cancelamento do teor cultural africano no Brasil só alimenta a indiferença, a ignorância disfarçada de intelectualidade, a transmissão da discriminação e do ódio racial.

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