As
páginas da encíclica Laudato Sì em
toda sua extensão trazem um incisivo convite à conversão. A conversão não é
algo para lugares repletos de um sentimentalismo religioso estéril e
inconclusivo. A conversão é algo extremamente humano. Trata-se de uma
iniciativa divina que tem o coração humano na mira. A conversão é um projeto de
Deus para nos tornar mais humanos. E mesmo quando não nos damos conta, estamos
nos convertendo todos os dias. Estamos tomando direções que nos aproximam do
coração do Pai que é o nosso verdadeiro Lar.
A
conversão nos liberta das prisões que derivam do culto de si mesmo, que remetem
ao egocentrismo já presente nas páginas do Gênesis (3,4-5) quando seduzida
diante do mistério da iniquidade, a humanidade despede-se de Deus. Não é mais
necessário escutá-Lo. Nós sabemos quem somos, de onde viemos e para onde
iremos. Precisamos de qualquer coisa, exceto de um Deus. Assim compreendemos a
voz do Pai na Transfiguração de Jesus. Dizendo: “Este é o meu Filho amado,
escutai-o” Deus reapresenta seu Filho, Caminho de constante conversão do
coração. (cf. Marcos 9,7-8)
O
coração do ser humano é tão precioso aos olhos de Deus que até mesmo a religião
perde a sua identidade quando não visa transformá-lo. O papel intransferível da
religião consiste em lê-lo por dentro para fazer emergir o novo inspirado e
esperado por Deus (cf. Mateus 13,52). Seja qual for a religião, sua tarefa
fundamental consiste em atravessar as superfícies, reconstruindo aquilo que
danificamos quando d’Ele nos afastamos. Eis o que encontramos na Palavra de
Deus: “Com efeito, é do coração que procedem más intenções, assassínios,
adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações”. (cf.
Mateus 15,19)
Poucos
dias nos separam da celebração que chamamos: Quarta-feira de Cinzas. Em todas
as paróquias ouviremos: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”. Desde agora
percebemos que a conversão não engloba um objeto etéreo e irrealizável. A
conversão toca aquilo que há de mais concreto, refaz o ethos, transforma o conjunto das nossas ações. Certa vez, ouvi uma
entrevista da filósofa Márcia Tiburi na qual esta afirmava que a ética traz a
seguinte questão: O que estamos fazendo uns com os outros?
Através
da encíclica Laudato Sì, o Papa
Francisco nos ajuda neste caminho de conversão, perguntando-nos: O que estamos
fazendo com a Casa Comum? Como nós a
recebemos e como a deixaremos para as gerações futuras? “Casa Comum, nossa responsabilidade”, é o apelo feito pela CNBB
nesta Campanha da Fraternidade. Esta recorda a expressão grega oikos, normalmente traduzida como Casa. Do termo oikos, deriva ainda a palavra ecologia, que implica as normas que
regem a Casa Comum. (nº14)
Assim
perguntamos: A nossa Casa Comum está
regida sobre normas de preservação ou de agressão? Todos sentem na pequena
Aracaju um calor jamais visto que aumenta a cada ano. E o que fazemos?
Continuamos desmatando de forma ativa ou passivamente? Nossos grupos,
movimentos e pastorais estão envolvidos em projetos de replantação? Qual o
lugar que o verde ocupa em nossas comunidades paroquiais? São Francisco de Assis
sempre pedia aos frades que houvesse um lugar para o plantio nos conventos
(nº12). Sou um cristão católico que ama, protege e se empenha na defesa da
natureza?