As
variadas ciências com seus objetos específicos nutrem uma preocupação com o ser
humano. Este debruçar-se sobre o ser humano na sua realidade palpável e
contingencial, é aqui chamado de humanismo. Existem equívocos que deturpam esta
perspectiva. O humanismo não é convencionalismo, não se expressa nas
conveniências, nos conchaves que absolvem o rico presenteado com robustas
reduções de pena e condena o pobre que sequer é ouvido e julgado. O humanismo é
instrumento de resgate que visa preencher as graves lacunas produzidas por
quaisquer ciências que estabelecem parcerias nocivas.
Uma
política que aceita a parceria do humanismo não se reduzirá a simples
manutenção do poder, não será a clara expressão do custe o que custar, lembrará
que a tarefa social consiste em incluir todos aqueles que estão sob os seus
cuidados, mostrará que os meios de inclusão são legítimos, possuem fundamento
constitucional e não ameaçam ganhos de uma pequena classe que sempre se
banqueteou diante do suor desmedido de muitos que tiveram seus direitos negados
e sentiram-se até devedores dos seus exploradores. Uma política humanista
transformará a democracia na antessala do direito e da justiça.
Uma
religião que abriga uma perspectiva humanista não estará ao lado de uma
política homicida que recorre ao hospital Albert Einstein e deixa ao léu
milhares de brasileiros. Uma religião que se torna um espaço eleitoreiro, que
manipula ao invés de libertar as consciências, que gera dependência e não
autonomia, não pode apresentar-se como uma religião em prol da vida. Esta não é
uma religião da denúncia da opressão, mas é aquela que camufla a corrupção. Uma
religião que transforma a doutrina num monopólio da experiência transcendental
degenera numa sagrada ferramenta que abençoa a exclusão.
Um
direito humanista não aceitará ser mais um brinquedo que satisfaz os detentores
do poder. Não cederá diante daquele que pode pagar mais e não esquecerá o que
menos tem. Um direito humanista aceitará dialogar com todas as esferas de uma
sociedade. Isto não é ingerência. É participação. Um direito humanista não é
absolutista. O humanismo evitará que o direito se envaideça, se torne decrépito
e acabe assim, cego, mudo e surdo. Um direito humanista não compactuará com
semideuses que recebem os tributos dos pobres mortais. O direito humanista
caminhará sempre ao lado da verdade e da justiça.
Uma
economia humanista jamais verá o indivíduo como simples espécie de mercadoria.
Esta economia indagará o que torna o empregador sempre mais rico e o que
distancia o empregado do produto que fabrica. A economia precisa ir além de um
mero acúmulo nas mãos de poucos. Se a economia não gera distribuição de renda e
serviços públicos de qualidade, continuará blindando as desigualdades abissais
de uma dada sociedade. O humanismo não é assistencialismo, pelo contrário,
trata-se de uma práxis libertadora e emancipadora que visa reunir esforços em prol
da construção de uma efetiva cidadania.